Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 383 de 2007-06-05 |
Recordar tradições
A Cultura Popular Portuguesa foi tema da habitual “Troca de Palavras”, uma iniciativa organizada pela Biblioteca Municipal da Covilhã, todas últimas quintas do mês, pelas 21h30. José Luís Adriano foi o convidado desta tertúlia.
> Vânia RodriguesForam duas horas para relembrar tradições, lendas, música e dança popular portuguesa, numa conversa bastante animada, na passada noite de quinta, dia 30, pelas 21h30. Realizada na Biblioteca Municipal da Covilhã, esta iniciativa reuniu habitantes da região que se deslocaram para dialogar, esclarecer e problematizar os hábitos e costumes antigos do povo português.
Natural da vila covilhanense do Paul, onde nasceu em 1953, José Adriano, orador desta iniciativa, licenciou-se em Filosofia, concluindo a componente curricular de mestrado em Língua e Cultura Portuguesa, à qual se dedica nos tempos livres. “Dedico-me a este tema devido ao berço, e acredito que seja o berço que nos dá a relação com as coisas. Sou de uma aldeia com muita tradição, ligada à terra”, refere este professor, formador e investigador que também pertence ao Conselho Técnico da Beira Baixa da Federação do Folclore Português.
“Quero agradecer à Câmara Municipal e espero que, ao longo desta noite, possamos tratar de assuntos culturais, político e sociais mantendo a tradição da conversa, tão característica desta região.” Foi desta forma que interveniente iniciou o evento, pretendendo que todo o auditório participasse informalmente, estimulando o debate pela Cultura Popular, e como fazê-la renascer. Tempos em que a alfabetização era uma realidade e os suportes de escrita nas aldeias eram poucos; a sabedoria e conhecimentos que usufruíam cultivavam-nos através da memória. A globalização veio massificar costumes, gostos e valores, apesar de “após o 25 de Abril, terem crescido as respostas das instituições sociais, que se dedicam na recuperação das tradições portuguesas, através de feiras tradicionais, de folclore, da edição de livros, de boletins etc”.
As origens, os percursos, os percursores e o modo como projectar o futuro da Cultura Popular portuguesa, constituíram os pontos de análise de José Adriano que, além de investigador, é professor e formador, actividades através das quais orienta e coordena algumas publicações sobre cultura de tradição oral, com especial ênfase na vertente musical, nomeadamente o folclore.
“Refúgio” e “A Música Tradicional”, dois livros escritos pelo orador, encontravam-se em exposição. Em ambos os escritor faz referência à identidade portuguesa, enunciando os principais códigos e manifestações culturais que nos caracterizam
“O contexto rural está em crise, o que faz com o que tudo o que o constitui esteja em crise também. Temos obrigação, hoje em dia, com as novas condições técnicas de que podemos usufruir, de investigar bem e não deixar morrer um passado com uma identidade tão própria e rica como a nossa”, concluiu o investigador.
Esta tertúlia terá agradado à numerosa assistência, que encheu a sala e participou animadamente neste diálogo de memórias e reflexões. Contudo, era visível o descontentamento em relação ao apaziguamento crescente da nossa cultura tradicional. “O enraizamento cultural é forte, mas está prestes a acabar devido ao governo encerrar serviços públicos sociais nas aldeias. As pessoas são obrigadas a deslocar-se para as grandes vilas ou cidades, perdendo-se assim as tradições e hábitos populares.”, disse Miriam Baronet, umas das presentes.
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