Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 383 de 2007-06-05 |
“Actualidade de Maquiavel” reúne adeptos
Pensar o papel do filósofo italiano nos dias que correm era o objectivo a que a organização se propunha. Partindo daqui, as discussões multiplicaram-se. Espera-se agora que o Instituto de Filosofia Prática (IFP) publique os trabalhos apresentados.
> Igor CostaPara António Bento, organizador das jornadas, “infelizmente, o «Estado de Direito» faz jurisprudência cada vez mais por linhas tortas, para não dizer linhas tortuosas”. É por isto que o também docente da Universidade da Beira Interior (UBI) apresenta uma resposta dupla, interrogado sobre a relação entre os políticos de hoje e as teorias de Maquiavel. “No que o ensino de Maquiavel tem de mais chocante, pode dizer-se que sim, embora de maneira altamente camuflada, de maneira não assumida. No que o ensino de Maquiavel tem de mais são (falo da coragem política) pode dizer-se que não”. A fim de responder a esta mesma questão, nove investigadores debateram na UBI a “Actualidade de Maquiavel”. Além da relevância teórica do pensador renascentista, Paulo Serra, presidente do Departamento de Comunicação e Artes, lembrou que no próximo ano funcionará o curso de Ciência Política e Relações Internacionais. António Fidalgo, presidente da Faculdade de Artes e Letras, identificou “as universidades como instrumentos de poder, e meios de discussão do poder”. Com uma estrutura sequencialmente desenhada, as jornadas começaram por enquadrar Maquiavel no seu tempo. Manuel Fortes Torres, do Instituto de Educación Secundaria “Auga da Laxe” falou de “Maquiavel e o Projecto Político Burguês”. O galego interpretou as palavras do renascentista, que indicava a política como “um reino deste mundo”, desprovida de transcendência. A discussão sobre o vanguardismo de Maquiavel ocupou parte significativa dos debates. Se alguns intervenientes viam em teóricos medievais indicações daquilo que viria a ser a política moderna, Manuel Fortes Torres vê no italiano o início do conceito de “Estado de Direito”.
A este nível, Maquiavel apresenta a república como a melhor forma política, “pois não há dependência de factores hereditários”. Desta forma, a igualdade social é o contexto que é condição material para a república. Segundo o investigador galego, “para se ser politicamente activo há que ter interesses”, e à altura eram os interesses da burguesia que estavam em jogo. Para Maquiavel, “há que orientar politicamente a defesa destes interesses, harmonizando-os através de mecanismos para isso criados”. Por aqui passava a defesa dos interesses da pátria, com a política assente em três pressupostos: imanência, autonomia e uniformização dos actos. No fundo, “a decisão política é boa ou má em função da sua funcionalidade”, remata Manuel Fortes Torres.
As comunicações de Rui Bertrand, António Bento e João Carlos Correia (da UBI), Luís Salgado Matos (da Universidade de Lisboa), Diogo Pires Aurélio (da Universidade Nova de Lisboa), Mendo Castro Henriques e Miguel Morgado (da Universidade Católica) e João de Almeida Santos abordaram depois aspectos diversos relacionados com o pensamento de Maquiavel.
Do encontro fazia-se, no final, um balanço “altamente positivo”. As expectativas eram elevadas, por isso não houve surpresas. “As Jornadas decorreram conforme o previsto. Como as pessoas que nelas participaram são pessoas que nas suas respectivas áreas têm trabalho de reconhecido mérito, só pode dizer-se que as Jornadas decorreram de acordo com as expectativas que o seu organizador depôs nelas”, confirmava António Bento. Para o início do próximo ano espera-se a edição dos estudos efectuados, uma ideia que já se previa antes do desafio de António Fidalgo.
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