Voltar à Página da edicao n. 383 de 2007-06-05
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Pobreza e desemprego

> José Geraldes

A pobreza em Portugal é um fenómeno que se arrasta e não passa com o tempo. O desemprego já ultrapassa os oito por cento, a taxa mais alta dos últimos 21 anos e não se vêem no horizonte próximo sinais de baixar.
A pobreza e o desemprego parece que se transformaram numa sina que se colou ao País. E não o querem largar. Será destino fatídico?
Os números divulgados por ocasião da conferência promovida pela Comissão Nacional Justiça e Paz sobre o tema Por um Desenvolvimento – Global e Solidário – Um Compromisso de Cidadania constituem um alerta que a todos implica e responsabiliza. E são um murro no estômago.
O Manifesto publicado a propósito desta conferência sublinha que a taxa de pobreza se tem mantido quase constante ou seja perto dos 20 por cento, o que corresponde a cerca de dois milhões de portugueses. Um dado escandaloso diz respeito ao período de 1995 a 2000 em que estiveram em condição de pobreza 47 por cento das famílias portuguesas. Destas 72 por cento foram pobres durante dois e mais anos.
A taxa de pobreza entre nós tem por base uma desigualdade de rendimentos que é a mais alta de todos os países da União Europeia. O índice de Gini que varia entre zero (igualdade máxima) e 100 (mínima) ronda os 38,50. Portugal com esta classificação fica ao lado da Letónia que é o segundo país europeu do ranking com maior índice de desigualdade. Em concreto, em Portugal, os 10 por cento mais pobres detêm apenas 2 por cento da riqueza produzida. Os 10 por cento mais ricos possuem 30 por cento desta mesma riqueza. O fosso entre ricos e pobres apresenta valores que atingem o dobro dos países da União Europeia.
Como dar volta a esta situação dramática? O Manifesto advoga que “as causas só podem ser removidas modificando os factores económicos, sociais e culturais que geram os mecanismos sociais que perpetuam a pobreza”. Aliás, a pobreza, em Portugal, não é devida à falta de recursos nacionais mas no facto desta realidade ser considerada secundária nas opções governativas. E o problema não pode encontrar a solução em gestos apenas esporádicos ou de generosidade emocional.
Daí uma acção concertada, a todos os níveis, para que um compromisso colectivo leve à influência dos órgãos de soberania para que a erradicação da pobreza seja um objectivo prioritário. Ao mesmo tempo, pressionar as instâncias próprias no sentido de haver salários e pensões mínimas para evitar a continuação das situações de pobreza. E não descuidar o papel da sociedade civil para que se multipliquem acções de proximidade dos mais pobres.
A pobreza – o Manifesto sublinha-o com firmeza- “é uma grave violação dos direitos humanos”. O direito de não ser pobre deve fazer parte dos direitos humanos universais.
Erradicar, pois, a pobreza, não pode reduzir-se a um acto voluntarista mas tem de figurar como programa de acção governativa sem qualquer reticência nem complexo de inferioridade.
Quando olhamos para os números da pobreza, é impossível calar a revolta, vendo gestores e administradores de topo que duplicaram os seus salários num total de 3,5 milhões de euros ou seja um aumento de 220 por cento.
E os dinheiros que por aí vemos esbanjado em coisas supérfluas ou em assessores desnecessários ou em “tachos” criados para dar emprego aos “amigos do cartão partidário”?
Um país assim está doente. E muito injusto. Até quando?


Data de publicação: 2007-06-05 00:00:00
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