Voltar à Página da edicao n. 374 de 2007-04-03
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

A água e a ética

> José Geraldes

As Nações Unidas proclamaram 2005-2015 a Década Internacional de Acção da Água para a Vida. A iniciativa tem toda a razão de ser. Quando sinais expressivos mostram indícios claros de alterações climáticas, a preocupação pela água impõe-se como um dever indeclinável.
Em muitas zonas do planeta, a água já é um bem escasso. E esta realidade pode generalizar-se se não houver da parte dos governos e dos cidadãos uma nova atitude que leve ao uso racional do precioso líquido.
As estatísticas revelam que 40 por cento da população mundial ou seja mais de seis mil milhões de pessoas têm um acesso limitado à água e não dispõem de sistema de saneamento. Para garantir o acesso universal à água bastariam nove mil milhões de dólares, o correspondente ao que os europeus gastam por ano em gelados.
O nosso corpo é 70 por cento de água. Podemos prescindir na vida de muitas coisas mas nada existe que substitua a água. Daí que não possa ser usada com um bem inesgotável. E a água como o ar são essenciais à vida.
Em Agosto do ano passado, cientistas de todo o mundo reuniram-se em Estocolmo para avaliar o estado da água. Foi apresentado um relatório que alerta para a gestão do seu consumo. Nele pode ler-se: “Precisamos de mudanças radicais nas instituições e organizações responsáveis pela gestão dos recursos hídricos da Terra e de um modo muito diferente de pensar a gestão da água”. E para estas mudanças não temos tempo a perder, sob pena de virmos a sofrer consequências terríveis.
A desflorestação, o desvio de cursos de água, a agricultura e a desertificação constituem factores que esgotam as reservas. Só a agricultura a nível mundial consome 74 por cento dos recursos hídricos.
Em Portugal, existe um documento que é o Programa Nacional para uso da Água. Os objectivos até 2011 visam passar de perdas de água por cada português de 40 para 20 por cento e na agricultura de 50 para 35 por cento. A nossa legislação hidráulica vem de D. Carlos e existe a Lei-quadro da Água.
Dada a nossa situação geográfica, somos obrigados a partilhar a água com a Espanha donde recebemos 60 por cento da água de que dispomos. Há um acordo sobre os rios.
Todos estes documentos e o acordo com a Espanha têm muitas virtualidades e podemos mesmo classificá-los como bons. O problema é a sua aplicação. Um certo desleixo impede um acompanhamento eficaz quer do Programa Nacional, quer da Lei-quadro, quer do acordo com a Espanha que, por vezes, abusa da sua situação a montante.
Na vida quotidiana, todos podemos gerir os gastos com a água. Não esqueçamos a lei de Lavoisier: “Na natureza, nada se perde, tudo se transforma”.
Gestos simples como não deixar as torneiras a pingar, poupam por dia milhares de litros de água. Igualmente tomar duche em vez de banho de imersão e com tempo controlado. E também não lavar os dentes com a torneira aberta. E ainda lavar o carro com balde e esponja.
A gestão da água como bem escasso, exige um comportamento ético. Ao usá-la devemos pensar em todos. Pois como refere um documento do Conselho Pontifício de Justiça e Paz, também há “um direito humano à água”.


Data de publicação: 2007-04-03 00:00:00
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