“Todos estamos unidos pela arte”

O grupo de teatro do Instituto Universitario de Tecnología “Alonso Gamero” (IUTAGTEATRO) trouxe à Covilhã um monólogo sobre a existência e a consciência humanas. Uma “modalidade complexa, que exige paixão, entrega e trabalho”, como revela Juan Carlos Gómez, o protagonista.

“A ideia de monólogo era essa: chegar ao público”, esclarece o actor acerca da forma como encarou a actuação. “Al Fondo del Espejo” é uma peça de Rafael Zárraga que retoma a máxima de Hamlet: «Ser ou não ser». O grupo de teatro venezuelano apresentou no XI Ciclo de Teatro Universitário da Beira Interior, no passado dia 22 de Março, a obra do escritor sul-americano. Em cena, um ex-violinista olha para a sua vida passada e presente, lembrando-se do que já foi e do que lhe resta agora.
“A problematização da existência humana em todas as suas dimensões, bem como o processo de revelação daquilo que o homem é realmente” constituem o cerne do texto do autor venezuelano. O grupo universitário da América Latina, único participante de fora da Península Ibérica, quis com este monólogo recriar “a reflexão que nós fazemos sobre o que fomos e não fomos ao longo do percurso da nossa vida. A grande questão é esta: se realmente estamos a ver a nossa aparência interior ou se estamos a ir um pouco mais ao fundo da nossa alma, da nossa consciência”, revela Víctor Pelayo Roodz, director do grupo IUTAGTEATRO.
“Na Venezuela temos uma grande estima pela comunidade portuguesa e o convite para vir a Portugal, especificamente à Covilhã, foi uma grande emoção e não me preocupou nada o idioma. O mais importante era transmitir o nosso carinho e o nosso trabalho”, confessa Víctor Pelayo. Para este grupo hispânico, a arte é uma linguagem universal, sem fronteiras ou barreiras. “É maravilhoso como através da nossa representação, paixão e entrega nos misturamos em todos os países sem diferenças. Dentro da arte não há diferenças de raça, de linguagem ou de cultura”, afirma com emoção Juan Carlos.
Actor e encenador concordam que “não é fácil entregar toda a responsabilidade de uma peça a um só actor, e construir esta personagem exigiu muito trabalho de equipa”. A preparação do texto e a construção física, psíquica e sociológica da personagem demorou cerca de um ano, tendo sido auxiliados pelo psicólogo e sociólogo do Instituto Universitário. A dança, que já pratica desde os 7 anos, facilitou o desempenho. “Era importante chegar à personagem certa”, confessa o actor. Trabalhar a expressão corporal, harmonizando-a com a música, a dança contemporânea e a representação teatral, era um dos passos para transmitir com sucesso a mensagem pretendida.
Explorar a interioridade do Homem, falando com um espelho, “pode transmitir-nos coisas a que não pensaríamos responder”. Juan Carlos recolhe deste papel uma experiência pessoal. “Enfrentar-me a mim mesmo no espelho durante o processo de montagem é uma experiência muito forte. Dava por mim a discutir comigo mesmo o que gosto e não gosto e a interrogar-me o que existe e não dentro de mim”, recorda o estudante.
O oitavo dia do Ciclo de Teatro foi até à data o menos concorrido. No entanto, o actor realça que acabou por ser bom, aproximando-o dos espectadores. “Hoje, a experiência foi muito boa porque era um público reduzido. Criou-se uma relação bastante íntima com o público e foi tanta a energia que recebi da parte dele que me deu mais força para fazer o meu trabalho”, acrescenta Juan Carlos. No final, a plateia elogiou o desempenho do actor venezuelano e a envolvência que criou com o texto e com o cenário.
Ariadna Rodriguez, estudante espanhola de Erasmus, reconhece “a força da actuação”. “Acredito que o actor se tenha esforçado muito porque não se trata de interpretar um trabalhador comum, por exemplo, mas tirar de si esse lado escuro. Como se nessa loucura quase irracional o personagem atingisse a sua própria verdade”, acrescenta. Pelo facto de se tratar de uma peça falada em espanhol, a estudante confessa que “escutar algo na minha língua em Portugal é muito emocionante”.