Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 372 de 2007-03-20 |
Estuda, tem carro, carta de condução, namorada, "uma vida normal. Adaptei-me bem. Sou forte, não me vou abaixo, tive a família, colegas, que me ajudaram muito". Aos 23 anos, Tiago Rodrigues já provou que não tem medo do trabalho, e quer completar a sua formação profissional para trabalhar "em qualquer coisa em que me possa adaptar". A prótese que lhe foi colocada depois do acidente apenas lhe limitou o andar. Impedimentos, só os lógicos: alguns desportos e saltar.
Francisco Borges, o treinador, olha para trás e aponta o valor do desporto na recuperação do jovem: "O Tiago passou por um processo complexo, mas neste momento está psicologicamente bem resolvido da parte dele. Houve questões como a confiança, a auto estima, que tiveram de ser trabalhadas, e eu tenho a certeza absoluta de que a natação foi fundamental nesse processo".
Na altura a natação foi-lhe recomendada pelo fisiatra, mas hoje o atleta leva o desporto muito a sério: "Custa a treinar e é duro. Há dias em que não apetece nada, mas tenho de ir". Francisco Borges é o primeiro a admitir o esforço que a modalidade exige, e vê aí um dos entraves à existência de mais praticantes locais em competição. "Na Beira Interior não há a cultura da natação. Nenhum pai, ou quase nenhum pai autoriza o seu filho a vir treinar seis vezes por semana." A Associação de Natação da Beira Interior pode vir a ajudar, mas há ainda muitas incertezas. Para o técnico, o essencial está feito, "agora é preciso crescer, é preciso tempo, e é preciso alterar aquilo que é a cultura desportiva de todos os intervenientes: técnicos, professores, pais, dirigentes e atletas".
Mas o também coordenador da piscina municipal da Covilhã admite a dureza da natação: "É uma modalidade muito específica que tem um treino muito exigente e que se reveste até de alguma monotonia em termos de treino, tudo é muito previsível. É um tanque com 25 metros, feito inúmeras vezes, sem qualquer tipo de alteração, não há a incerteza, a presença dos colegas, a presença dos adversários. É tudo muito previsível, e algo monótono, muito solitário, para indivíduos muito especiais." Ciente de tudo isto, Tiago Rodrigues é peremptório e não desiste: "Gostava de nadar uns bons aninhos e de fazer provas internacionais, enquanto me sentir com força."
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