Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 371 de 2007-03-13 |
Jorge Pelicano apresenta documentário na UBI
Estreado recentemente, o documentário “Ainda há Pastores?” foi o tema de discussão de uma conferência direccionada aos alunos de Cinema da Universidade da Beira Interior (UBI). A exibição do filme, na noite de 9 de Março, confirmou o interesse de algumas centenas de espectadores.
> Ana AlbuquerqueO primeiro documentário, e primeira obra, de Jorge Pelicano, suscitou um interesse especial na população covilhanense. Uma temática próxima da cidade foi suficiente para levar a Banda da Covilhã, em parceria com o Departamento de Comunicação e Artes da UBI, a convidar o jovem realizador, formado na região. Para José Eduardo Cavaco, maestro da banda, estes dois factores de proximidade concorrem para que os estudantes beneficiem com o encontro. A apresentação do filme e a conversa com os alunos no Anfiteatro da Parada foi parte de uma iniciativa que ocupou todo o dia. Na noite de 9 de Março, o Teatro Cine também recebeu o cineasta, que conversou com o público presente.
No anfiteatro da universidade foram discutidos vários aspectos relativos à idealização, concepção e produção do filme. Houve lugar para debater a situação actual do cinema português e, por outro lado, a situação de uma parte específica da população da Beira Interior – os pastores. A temática surgiu do interesse de Jorge Pelicano por estas gentes: “Sempre me fascinaram os pastores, por terem uma vida muito dura, fazendo sempre a mesma coisa, sem feriados ou dias de descanso”, refere o realizador. E nem a falta de apoios e reconhecimento por parte das produtoras, no início, impediram a concretização do projecto.
Do filme ficou uma visão que o realizador considera ser desconhecida da maioria das pessoas. Mostrar os pastores “puros e genuínos”, a tempo inteiro, na Serra da Estrela, “quem são, como são, o que fazem”, até as preocupações que levam esses pastores a lamentar-se foi o objectivo de Jorge Pelicano. A pergunta, em jeito de lamento, é laçada por Hermínio, o personagem principal do documentário: “quem é que quer serra?”, pergunta o pastor, adivinhando o fim da sua profissão. Através do filme, o realizador apresenta a realidade da pastorícia como ela é hoje num dos locais mais escondidos de Portugal. Com isso pretende dar a conhecer aos espectadores aquilo que muitos desconhecem, para que depois cada um possa reflectir sobre o assunto.
Novos projectos estão a ser ponderados, mas o propósito continuará a ser “contar estórias portuguesas, ou realidades desconhecidas, que tenham capacidade de nos tocar”, diz o jovem. À noite, o filme foi visto por várias centenas de pessoas, tal como aconteceu em outras salas da região, o que tem satisfeito o realizador. No final, o público pôde falar com Jorge Pelicano, e notaram-se muitas manifestações de reconhecimento pela coragem e interesse em abordar uma realidade tão próxima da Covilhã, mas cada vez mais afastada das cidades de hoje. “Esta visão do tema é a mais misteriosa, e acho que é aquela que as pessoas tinham no imaginário, mas que de facto não conheciam, ou que entretanto já tinha desaparecido.” Jorge Pelicano lamenta “não ter podido captar essa transumância, essas grades migrações que os pastores faziam”, mas continua convicto de que “Ainda há Pastores?” poderá vir a desempenhar um papel relevante na preservação destas vidas na memória colectiva. Diz o jovem autor que “pelo menos falou-se de pastores durante algum tempo”.
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