Voltar à Página da edicao n. 371 de 2007-03-13
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Indisciplina e comunidade educativa

> José Geraldes

A onda de indisciplina que invadiu as escolas, está a ultrapassar todos os limites. Indisciplina mas também violência.
Segundo os números publicados pelo Observatório da Segurança Escolar, no ano 2005/2006, registaram-se 390 agressões a professores do 2º e 3º ciclo, ou seja, duas por dia.
A Linha SOS Professor recebeu 128 pedidos de ajuda. Ao todo foram cometidos mais de 5200 actos de violência, praticados nos estabelecimentos de ensino e imediações.
Estes actos envolvem alunos contra alunos e sobretudo alunos contra professores e funcionários. E igualmente pais que agridem os responsáveis das escolas.
Só no presente ano lectivo, a Direcção Regional de Educação do Norte registou quatro agressões de pais a professores nas escolas da região. Aliás a imprensa diária dá conta de casos que parecem inverosímeis.
Na escola do Cerco, no Porto, na semana passada, uma professora foi “violentamente espancada” segundo o relatório médico, com “escoriações na face e lesões lombares e dorsais”. A autora da proeza, a mãe de uma aluna.
É certo que lá fora também acontecem estes casos. Mas com a frequência que agora se dão entre nós, causa admiração e espanto como diria o nosso Sá de Miranda.
A situação chegou a um ponto tal que os sindicatos querem que o Código Penal torne bem explícito “o carácter público destes crimes”. Mais. Que “o Ministério Público seja obrigado a investigar todas as agressões físicas e verbais de que tenha conhecimento a docentes e não docentes, sem ser necessário haver queixa por parte do agredido.” Aliás, isto é mínimo que se deve exigir para a segurança nas escolas e dissuasão de novos desacatos.
A montante desta indisciplina aparece naturalmente a educação na família.
A ideia de que o ser humano é naturalmente bom, pois a sociedade é que o torna mau, da autoria de Rousseau, não colhe. O padre Américo, fundador da Obra do Gaiato, dizia que “não há rapazes maus” mas as suas casas procuravam transformar-se na família que “os rapazes da rua” nunca haviam tido. Por isso, a Obra dos Gaiatos recuperou e recupera os jovens.
O que família não dá, a escola não o dará. Pode ajudar mas nunca poderá ser a sua substituta. Daí a importância das associações de pais. E o papel que devem desempenhar na escola.
Será a colaboração dos pais e professores que pode tornar a escola mais segura. Mas hoje vemos pais que agridem professores que por sua vez têm inúmeras dificuldades em manter a disciplina nas aulas.
Fala-se muito da escola como comunidade educativa. De facto, este deve ser o projecto ideal a desenvolver em cooperação com as famílias para que haja crescimento pessoal nos alunos e verdadeira transmissão dos valores.
Mas não é a receita do programa televisivo “Morangos com Açúcar” que vai dar qualquer ajuda. Pelo contrário, pois a mentalidade deste programa não é nada formativo para os jovens.
Sem disciplina na escola, não podemos ter comunidade educativa que nos valha onde a pedagogia, a transmissão de valores e de conhecimentos se possa realizar a contento. Para a formação de verdadeiros cidadãos e verdadeiros homens.


Data de publicação: 2007-03-13 00:00:00
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