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> <strong>Abel Pereira da Silva</strong><br />

Água: escassez e controlo

> Abel Pereira da Silva

Na sociedade contemporânea as preocupações ecológicas, nomeadamente as referentes à ecologia humana (estudo da interdependência entre as instituições e o agrupamento dos seres humanos no espaço), estão na ordem do dia. Talvez esta situação seja um sinal de que nem tudo vai bem na relação do Homem com o ambiente, exigindo-se uma reflexão crítica sobre questões que vão desde o aquecimento global da Terra, a construção desenfreada em espaços que deveriam ser reservas naturais, as descargas poluentes nos rios, os resíduos tóxicos, até à privatização de bens naturais (bens estes que deveriam ser a garantia de uma vida saudável dos cidadãos). Como dizia o Chefe Índio Seattle, numa belíssima reflexão sobre a natureza e o planeta, “… se não somos donos da frescura do ar nem do fulgor das águas, como poderão vocês comprá-los?”. Há, pois, que fazer das preocupações ecológicas um tema de ponderação e cuidado que evite colocarmos em causa o nosso presente e empenharmos o futuro das gerações vindouras.
Ingrediente essencial à vida, a água é talvez o recurso mais precioso que a Terra fornece à humanidade. De facto, o futuro da espécie humana e de muitas outras espécies pode ficar comprometido, a menos que haja uma melhoria significativa na administração pública dos recursos hídricos terrestres. Já em 1972 a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou uma conferência, da qual resultou o Protocolo de Estocolmo, que foi o primeiro documento a abordar a necessidade de preservação destes recursos. Esta preservação passa pela responsabilidade de todo e qualquer estado em assegurar uma gestão pública, democrática e de qualidade, garantindo que a água chegue a todos os cidadãos em quantidade e qualidade, independentemente da sua condição económica e social e da sua localização geográfica. Setenta por cento da superfície do Planeta está coberta por água. No entanto, a maior parte desse volume, cerca de noventa e sete por cento, encontra-se nos mares e oceanos, tratando-se portanto de água salgada imprópria para o consumo humano e para a produção de alimentos. Apenas menos de um por cento do total da água doce do planeta se encontra nos rios e lagos, e mesmo esta, não está distribuída de forma homogénea em todas as regiões.
Foi o sentir esta responsabilidade e dever de cidadãos, que levou à reunião de um movimento cívico, desejoso de expressar o seu protesto público contra a intenção de privatização da água por parte do município da Covilhã.
Depois da entrega de um abaixo-assinado contra esta intenção, com cinco mil nomes, faz todo o sentido continuar, junto dos cidadãos do concelho da Covilhã a recolha de mais assinaturas que mostrem o seu descontentamento e indignação face à situação. Esperamos, que os responsáveis municipais, tenham em linha de conta a firme condenação que as pessoas têm demonstrado perante a abertura de portas que aumentam as dificuldades e desigualdades no acesso a um bem essencial à vida, como é o abastecimento de água potável.
Infelizmente as palavras do Chefe Índio Seattle continuam actuais: “O Homem trata a sua mãe, a Terra, e o seu irmão, o firmamento como objectos que se compram, se exploram e se vendem como ovelhas ou contas coloridas. O seu apetite devorará a Terra deixando atrás de si o deserto”.


Data de publicação: 2007-01-23 00:00:00
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