Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 363 de 2007-01-16 |
Há uma sensação de estar perdido no Portugal de hoje. As instituições, a sociedade, os indivíduos, mesmo o País, parecem ter perdido o caminho e não saberem como voltar a ele. Somos o país com o pior desempenho económico no espaço europeu, há anos que nos debatemos com o défice de Estado, continuamos na cauda da zona euro em matéria de riqueza, e em vez de recuperarmos a distância que nos separa dos outros, ela não pára de aumentar. Mas não é só a economia a estar mal; também os sistemas do ensino, da saúde e da justiça estão em crise, com as pessoas envolvidas a sentirem desconforto e mal estar. E andamos nisto desde há 4 governos a esta parte, desde o governo de António Guterres. A este mal estar generalizado junta-se um sentimento de cansaço, uma sensação de que a situação não melhora, apesar de se pedirem sacrifícios às pessoas, aumentando impostos e cortando regalias sociais.
Queremos encontrar o caminho. Pedimos a outros que nos mostrem o caminho. Ora queremos copiar a Irlanda, ora a Finlândia, ora pagamos a peritos e avaliadores estrangeiros para nos dizerem o que está mal e nos meterem no caminho certo. Só que as coisas não são assim. O caminho dos outros é o caminho dos outros e cada um tem o seu caminho. E nós também sabemos o que está mal, sem que ninguém de fora no-lo diga.
Se um aluno não estudar, se um professor não preparar uma aula, se um médico não comparecer ao serviço, se um empresário gastar na ostentação de um carro o que seria para investir, se um artesão, pedreiro ou carpinteiro, atamancar no trabalho, se um funcionário vai para o café em vez de estar ao trabalho, então é certo e sabido que todos pagamos por isso, e tanto mais o pagamos quanto mais formos coniventes com essas falhas e as desculparmos. Cá se fazem, cá se pagam, e qualquer pessoa no seu perfeito juízo sabe que é assim. E os portugueses sabem-no tão bem como qualquer outro povo.
A diferença aqui em Portugal é que existe uma condescendência para com as falhas dos outros, a fim de que sejam também condescendentes com as nossas. Evitamos exigir aos outros porque receamos que passem também a exigir a nós. Mas é justamente isso que devemos fazer: exigir aos outros, não desculpar faltas, para que eles também exijam de nós e não nos desculpem. É isso que se passa nos países mais ricos do norte da Europa: pura e simplesmente as pessoas exigem umas das outras e exigem delas próprias. Mais exigência, e muita da desorientação que por aí anda depressa desapareceria. Simples com certeza, mas não menos verdadeiro, nem menos difícil.
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