Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 360 de 2006-12-26 |
O Natal não deixa ninguém indiferente. Mesmo os não crentes o integram na sua cultura e não o podem ignorar. E nem os praticantes de outras religiões esquecem o Menino-Deus nascido de Maria de Nazaré, em Belém.
O Natal está no coração da História. E atravessa todos os estratos sociais e todas as idades. E inquieta quem procura dar um sentido à vida.
António Sérgio, conhecido pensador não-crente, escreveu em 1925 um texto sobre o Natal. Será bem conhecer ao menos uma parte. Eis: “Digamos, agora, que este mundo triste só terá uns longes de esplendor divino quando a última nuvem da superstição da Força se dissipar no cariz do alvorecer das almas e admirarmos somente o que é uma forma pura, amplíssima caridade, aspiração sem termo: conforme à imagem do Natal de Cristo que, no divino presépio, se mostra e ri. Deus é um menino, um menino é Deus”.
Jean-Paul Sartre, filósofo ateu, manifestou, como se fosse pintor, como daria as sua cores ao Natal. Assim: “A Virgem está pálida e olha para o menino. O que seria necessário pintar neste rosto é um encantamento ansioso que não apareceu senão uma vez sobre uma figura humana. Porque Cristo é o seu menino: carne da sua carne, o fruto das suas entranhas.” E mais adiante : “Penso que também há momentos, rápidos e fugidios, nos quais Maria sente, ao mesmo tempo, que Cristo é seu filho e que ele é Deus. Ao olhar para ele, pensa: este Deus é meu menino. Esta carne divina é minha carne. Ele é feito de mim, tem os meus olhos e esta forma da sua boca é a forma da minha. Parece-se comigo. Ele é Deus”.
Por estes dois textos de quem não acredita, vemos a importância e a influência do Natal. Aliás outros poderiam aqui ser invocados.
Por isso, tem razão a inquietação do órgão oficial do Vaticano L’Osservatore Romano por uma certa “guerra ao Natal” que está a desencadear-se. Guerra que tem por objectivo apagar “todas as suas tradições”. E reduzindo o Natal a “uma simples festa de prazeres e indiferença”.
É sintomático o que também escreve o jornal inglês The Sun. Diz este diário que na Europa e na Inglaterra “o que suscita mais a perplexidade é o desaparecimento definitivo de qualquer referência religiosa em cartões impressos para a época, substituídos por “bonecos de neve e renas, e já não a estrela do presépio, os magos ou outras imagens do género”.
A notícia de empresas de Inglaterra não fazerem festas de Natal para não ofenderem sensibilidades de não- crentes ou de fiéis de outras religiões é outro dado novo.
Não se pode negar que, devido à secularização, se perdeu muito do sentido verdadeiro do Natal. Mas eliminar as suas referências religiosas é um atentado à cultura judaico-cristã que só um jacobinismo primário pode explicar. E nas empresas os outros fiéis não têm que respeitar os cristãos? Onde está a tolerância? E onde fica a Declaração dos Direitos do Homem?
Daí inverter a tendência no sentido de os cartões de boas-festas retomarem as imagens do presépio, da estrela e do Menino-Jesus. Apagados estes símbolos abre-se um vazio.
Para vencer esta guerra contra o Natal que parece estar a desenhar-se, é imperioso e urgente que os cristãos estejam atentos e promovam iniciativas para reafirmar o Natal como o coração da História.
Ao longo de dois mil anos, muitos quiseram eliminar a pessoa de Jesus. Eles morreram e o Natal continua. E continuará sempre.
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