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Antonieta Garcia é docente na UBI

Episódio do Fundão rebelde em tempos de Inquisição

Num período conturbado, num clima de medo e perseguição, a então vila lutou contra o Santo Ofício e o poder da Justiça. Maria Antonieta Garcia dá a conhecer as circunstâncias.

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Uma revolta em defesa da autonomia do Fundão em relação à Covilhã, contra a Inquisição ou com os dois objectivos. Sobre as motivações não há certezas, mas no dia 22 de Novembro de 1580 a igreja fundanense foi palco de um motim que afrontou o Santo Ofício, protagonizado por Estêvão de Sampaio.
É também esta a figura central do último livro de Maria Antonieta Garcia, que durante quatro anos procurou descortinar os comos e porquês do insólito motim em documentos depositados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Um trabalho que deu origem a “Inquisição e Independência. Um motim no Fundão – 1580” e que pretendeu tirar da sombra este episódio.
O livro foi apresentado na noite da passada quinta-feira, 30, no Salão Nobre da Câmara Municipal e, segundo Fernando Paulouro, director do Jornal do Fundão, representa um “contributo assinalável para dar visibilidade a uma outra história do Fundão”.
O incidente tem origem na vinda do meirinho da Inquisição, com a intenção de no domingo prender os cristãos novos na igreja. Mas o vereador mais velho da terra, vila há apenas quatro meses, terá avisado os judeus convertidos.
Quando chegou à igreja, de vara levantada em sinal de poder, foi recebido com violência e apupos. Segundo os relatos, terá sido confundido com um outro meirinho, o da Covilhã, que se deslocou no mesmo dia ao Fundão para entregar um preso. A temível Inquisição tinha sido humilhada, numa época em que os Autos de Fé eram vulgares.
“A defesa do estatuto de vila [que viria a perder], a presença de dois meirinhos, o temor das prisões, por parte de cristãos novos, gerou uma situação explosiva”, escreve Maria Antonieta Garcia. O Fundão, terra de muitos judeus, ficou então marcado.
“Estêvão de Sampaio foi um herói, que esteve muitos anos no esquecimento”, frisa Fernando Paulouro, embora as suas reais motivações sejam uma incógnita. O jornalista e escritor realça também o “inventário da infâmia e das vítimas” que se encontra no final do livro, nas páginas onde constam os nomes dos delatores e das muitas vítimas do Santo Ofício. “A história nem sempre é justa com as suas vítimas”, diz a autora, “mas o esquecimento é uma forma de humilhação”, acrescenta.
Francisco Elias, que apresentou a obra, sublinha que se trata de um livro de história acessível, que “tem em relação às fontes históricas uma visão crítica”. Fernando Paulouro salienta o relato do “ambiente de brutalidade quando se faz o enquadramento do que acontece a homens e mulheres do Fundão que acabam na fogueira”.
O mais recente trabalho é uma edição da Alma Azul e já está à venda. Entretanto, a professora aposentada da Universidade da Beira Interior já iniciou a pesquisa do que deverá ser o próximo livro. O rasto do fundanense Sancho Pessoa, quarto avô do poeta Fernando Pessoa.


Antonieta Garcia é docente na UBI
Antonieta Garcia é docente na UBI


Data de publicação: 2006-12-12 00:01:00
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