Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 357 de 2006-12-05 |
“Ao cidadão desconhecido”, lê-se na base do monumento. Depois as coisas acontecem lentamente. Uma feira de vaidades e chapéus e vestidos de alta-costura esperam pelo provável “senhor presidente”. Antes disso, pessoas de bem com a vida vão chegando. Conversam e interrompem as suas próprias palavras por sucessivos toques de telemóvel. Por mais que uma vez, cada um deles atende o seu telemóvel e solta banalidades, ao calhas. E cumprimentam-se como se todos fossem os melhores amigos de todos. De todos menos um. O “patinho feio” caminha de negro. Lenta e sucessivamente, entra e sai por lados opostos. Chapéu preto, roupa negra, botas de cano alto, escuras vestem o personagem, que se completa com o pequeno cachorro que traz ao colo.
Depois de inaugurado o monumento e do pezinho de dança da praxe, ali fica o traste. Humano, mas disforme. Num instante vê-se votado ao esquecimento a que sempre esteve votado, e no outro metralhado por sons vindos de todos os lados. Sempre de pé. No púlpito do desconhecimento de si mesmo, contorce-se e tenta escapar. “Sim, é duro”, explica depois Alberto Pimenta, no seu camarim. ”Mas a performance, a verdadeira performance, envolve sempre um risco, seja ele físico ou moral. O rapaz que saiu do público e riscou o «des» do «desconhecido» poderia ter sido outra pessoa qualquer. Uma outra com quem não tivesse combinado.”
Também com o (i)mediatismo das figuras públicas se sente incomodado Alberto Pimenta. Quase a completar 69 anos, confessa o seu espanto com a vontade de aparecer na televisão, e a simpatia que esta provoca. “Quando apareci em algumas ocasiões na televisão, notei que as pessoas lá do prédio me tratavam de uma maneira diferente, eram mais simpáticas.” O autor de “A Divina Multi(co)média” e “Tomai isto é o meu Porco” mostra-se consciente do cansaço que o palco lhe provoca. Mas não deixa de escrever, continuando a “sacralizar o profano e vice-versa”.
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