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> <strong>José Geraldes</strong><br />

A dor e os cuidados paliativos

> José Geraldes

No espaço de dez dias, o tema da dor foi objecto de discussão e análise em várias iniciativas na Cova da Beira.
No Hospital Pêro da Covilhã, um fórum de enfermagem tratou da dor, quinto sinal vital, durante umas jornadas de um dia, com a participação de especialistas, tendo sido apresentadas comunicações de muito interesse. Um concurso de posters sobre a dor mobilizou todos os serviços hospitalares, com produções de nível superior.
A Comissão de Ética do Centro Hospitalar promoveu um colóquio sobre a dor analisada mais do ângulo dos cuidados paliativos e na perspectiva sociológica e psicológica.
A Unidade da Dor do Fundão comemorou o seu 14º aniversário com uma palestra de Daniel Serrão, professor de medicina no Porto e especialista em Bioética. Pelos testemunhos dados, viveram-se momentos de emoções fortes.
O interesse por esta área de cuidados médicos mostra que os profissionais de saúde querem prestar serviços ainda mais completos sob o ponto de vista do tratamento. Pois quantos mais conhecimentos houver, melhor se pode fazer este trabalho. Por isso, assinala-se como louvável este tipo de iniciativas.
A dor apresenta-se como uma realidade complexa. Que tem também a ver com cada doente.
A este propósito, o Dicionário de Bioética diz : “Pode-se falar da dor de duas maneiras: como experiência quotidiana que se acumula lentamente na nossa vida e se torna objecto de análise e de intervenções terapêuticas ou preventivas. Ou, então, como experiência limite, penetrante e perturbante que, pela sua natureza, tende a ser inexprimível, indizível”. E sublinha : “Estes dois aspectos são inseparáveis e cada um remete para o outro e ambos levantam dúvidas e fazem perguntas sobre o sentido da vida”.
A dor não escolhe classes sociais e atinge-nos a todos. E não a podemos eliminar da nossa vida. E aparece quando menos a esperamos. Mas há visões diferentes sobre as atitudes perante esta realidade irrecusável.
No sentido filosófico, para os gregos e romanos, o Homem só tinha que carregar e suportar o peso da dor. Já para a mentalidade judaico-cristã, a dor é um acontecimento histórico como uma experiência que pode ser superada, pois é fruto da liberdade humana. E tem sempre uma marca de esperança por ser uma caminhada para o Além.
O tratamento da dor não pode ser desligado da dignidade da pessoa humana. Daí o saber ter em conta quem temos na nossa frente e actuar no momento preciso.
Fala-se, hoje, também da dor total que abrange não só a dor e a angústia do doente como os profissionais que administram os tratamentos adequados.
O doente tem consciência dos direitos do seu estado e de ser feliz tanto quanto é possível.
Aqui entram os cuidados paliativos que dão nova qualidade de vida. E nunca será demais pôr em destaque na nossa região o papel desempenhado pela Unidade da Dor no Fundão, referência já a nível nacional.
A humanização dos hospitais também está ligada ao modo como se trata a dor. O afecto pelo doente e o estabelecer com ele uma relação pessoal ajuda a diminuir as suas fragilidades.
Na dor, aprende-se a vida. Fénelon tem razão: “Quem nunca sofreu, nada conhece. Não conhece nem o bem nem o mal nem os homens nem a si mesmo”.


Data de publicação: 2006-11-28 00:00:15
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