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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Idosos e violência doméstica

> José Geraldes

A um de Outubro foi assinalado o Dia Mundial do Idoso. Trata-se de uma data a que a sociedade deve dar a maior importância. Os idosos constituem um grupo social que tende a aumentar, dada a média elevada de esperança de vida. Em Portugal, os idosos representam já 17 por cento da população ou seja quase dois milhões.
Em poucos anos, multiplicaram-se os lares de Terceira Idade e os Centros de Dia no sentido de dar aos idosos uma melhor qualidade de vida. Agora torna-se nítida a preocupação com os Centros de Noite de forma a resolver outro tipo de problemas que surgem.
O ideal seria os idosos poderem ficar em suas casas – sítios onde moram os seus afectos – com algum familiar e ao pé das suas coisas. Mas a vida moderna, e os cuidados específicos de que muitos precisam, torna mais cómoda a sua mudança para um Lar.
Mesmo assim, ainda há muitos que continuam a viver nas suas casas mercê da autonomia física de que gozam, bastando-se a si próprios e tomando as refeições nos Lares.
Em qualquer das situações, o idoso merece da sociedade o maior respeito. Não só pela sua dignidade como pessoa mas também como património de sabedoria que representa. E, a este propósito, as famílias e a escola não devem descurar em incutir nos mais novos a atenção pelos idosos.
João Paulo II, na sua Carta as Anciãos, escreve: “Os anciãos ajudam a contemplar os acontecimentos terrenos com mais sabedoria porque as vicissitudes os tornaram mais experimentados e amadurecidos. Eles são guardiões da memória colectiva. (…) Graças à sua experiência amadurecida, são capazes de propor aos jovens conselhos e ensinamentos preciosos”. Na África, aos idosos dá-se o nome de “bibliotecas vivas”.
Mas, ao assinalar o Dia Mundial do Idoso, a sociedade não pode esquecer a as condições em que vivem. Primeiro, a violência doméstica de que são vítimas.
De acordo com a APAV (Associação de Apoio à Vítima), a violência doméstica abrange 70 por cento dos crimes contra os idosos. E o local onde estes crimes são cometidos é em casa. E por parte de filhos toxicodependentes.
As agressões não são só de tipo físico mas também de ordem psicológica. Aliás, as agressões psicológicas ultrapassam as físicas.
Depois as condições materiais. A maioria tem rendimentos inferiores a 300 euros mensais. Muitos fazem parte dos dois milhões de pobres que há no País. E uma grande franja é analfabeta ou não concluiu a escolaridade do ensino básico.
A somar aos maus-tratos, temos a solidão e ausência de afectos. Numa idade em que os sentimentos são mais frágeis, a falta de afectos provoca traumas e isolamento que, não raras vezes, levam ao suicídio.
Os idosos não têm tido prioridade nacional na agenda política dos partidos. Quando há eleições – e os idosos representam 20 por cento do nosso eleitorado – é que há interesse pelas suas vidas. Salvaguardem-se, no entanto, as iniciativas do poder local.
A sociedade civil também não pode eximir-se a dar resposta aos problemas dos idosos. Miguel Torga, poeta e escritor que foi médico, bem o escreveu: “Uma civilização que não valoriza os seus idosos e as suas vivências, é uma civilização decadente, desumanizante e em queda”.


Data de publicação: 2006-10-10 00:03:04
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