Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 339 de 2006-08-01 |
Os exames nacionais do 9º ano foram catastróficos na disciplina do Português. As negativas duplicaram em relação a 2005. Em vez de melhorar, a situação tornou-se mais complicada. E parece que não há remédio para a doença.
O estado crítico do ensino do Português já vem de longe. Desde há muitos anos que o facto se verifica com tendência para se agravar cada vez mais. Não é possível esquecer o embate sofrido quando nos finais dos ano 80, depois de uma ausência do País de mais de uma década, começámos o ensino universitário. Ao corrigir os primeiros testes, os erros de português eram tantos que nos punham os cabelos em pé. Quase não acreditávamos no que víamos, mas a verdade estava ali sem complacências.
Os estudantes no final dos estudos secundários não sabem escrever. A crise continua no curso universitário. E os alunos terminam a licenciatura, dando erros de palmatória.
Até em doutoramentos se verificam erros de português. Já não falamos noutras profissões em que aparecem erros em catadupa. Nos próprios ofícios administrativos, o português incorrecto torna-se quase regra.
Conhecemos autarcas que, caso os ofícios não estejam redigidos em português correcto, os devolvem e só os assinam depois de corrigidos.
É inconcebível como se admite este estado de coisas sem haver uma atitude responsável para tentar minimizar a situação. De ano para ano, o ensino em geral e mais no caso do Português vai piorando. E quem devia actuar, encolhe os ombros, numa atitude de desleixo que não se compreende e não se admite.
O que se passa com o Português, é inconcebível. Um aluno que não saiba escrever na língua materna, fica desestruturado, incapaz de compreender as matérias noutras disciplinas.
Também aqui a culpa não morre solteira. Sucessivos governos foram culpados da situação a que se chegou neste ponto. A regra adoptada era o facilitismo para não traumatizar os estudantes.
Convenceram-se os meninos e meninas de que não era preciso fazer grandes esforços na aprendizagem. Ora sem esforço e trabalho, sem queimar as pestanas, não é possível aprender. A mentalidade que se criou, foi o contrário de tudo isto.
Os resultados pela negativa estão à vista. Depois as reformas que cada governo levou a cabo, só complicaram mais ainda as coisas. Para pior.
Desde há 30 anos que estamos assistindo a mudanças na educação que não melhoraram as prestações dos alunos. Investimos maiores recursos do que os outros países mas com resultados inferiores em qualidade.
Diz-se que a percentagem das notas negativas tem a ver com o método de correcção das provas. O argumento não colhe. Então os professores avaliam mal os seus alunos. E as comissões dos exames vivem num mundo virtual. E nem se adiante que o sistema é o culpado. Estamos fartos de tal explicação.
O saber português faz parte da nossa identidade nacional. Fernando Pessoa bem o expressou : “A minha pátria é a língua portuguesa”. José Leite de Vasconcelos, grande estudioso das nossas tradições, concretiza : “A língua é um dos elementos da nacionalidade : pugnar pela vernaculidade daquela é pugnar pela autonomia desta”.
Tudo o que se fizer pela língua portuguesa, só engrandece o nosso Portugal. E sobretudo neste mundo da globalização.
> virca @ clix . pt em 2006-08-09 13:03:06
Estranhamos muito que a Universidade não reconheça as suas culpas...
Então, não são as Universidades que ministram e, sobretudo, avalizam, o pouquíssimo saber dos professores?
O Ministério da Educação tem gravíssimas culpas. Mas...as maiores pertencem às Universidades.
A ignorância dos alunos é, de facto, alarmante. Reconheço-o. Deparei com ela. Mas como poderão os alunos aprender com professores, universitariamente licenciados para o efeito, que chumbariam em qualquer prova séria do 9º ano?
Bom será que o URBI continue a apontar o dedo à situação. Mas não deve fazê-lo só em relação a terceiros...porque a causa de tudo isto é, fundamentalmente, universitária.
Multimédia