Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 337 de 2006-07-18 |
À descoberta do passado e das gravuras rupestres
A Casa do Povo de Casegas levou cerca de 70 caminheiros por uma rota onde o principal ponto de interesse foi a visita a gravuras rupestres descobertas em baldios da Erada. O Instituto Português de Arqueologia já tem este sítio registado e diz ser de valor patrimonial e científico
> Notícias da CovilhãHá pessoas que têm apetências intrínsecas e que depois de reveladas tornam-se paixões. É o caso de Luciano Branco Duarte que, sem formação na área de arqueologia (é funcionário público), se dedicou há muito nos tempos livres a calcorrear caminhos e encostas da Serra da Estrela tentando descobrir vestígios do passado e gravuras rupestres. Porque é justo referi-lo, deve-se a este amante da arqueologia a descoberta de importantes gravuras rupestres nos baldios da freguesia da Erada. Mais concretamente nas proximidades da Estrada Nacional 230, que liga esta população ao alto dos Trigais.
Por outro lado, tem de haver instituições preocupadas em dinamizar actividades temáticas que divulguem e sensibilizem as populações a preservar a identidade das gerações que nos antecederam, como é também o caso da Casa do Povo de Casegas, organizadora de caminhadas temáticas (dos Mineiros e do Ganhões) com a colaboração do Luciano Duarte. A ultima teve lugar no inicio do mês e contou com cerca de setenta caminheiros dispostos a percorrer vinte quilómetros, num percurso que começou com a concentração na Eira logo pelas seis e trinta da manhã e depois levou os participantes até a Grotas, Feiteira, Alto da Lameira, Lameira Redonda e Casa Branca, onde foi servido um pequeno almoço retemperador para depois iniciar-se o regresso pela Coimbrã, Fernão Duque e Casegas.
Objectivamente, a iniciativa tinha o propósito de dar conhecer e divulgar uma “conheira” onde existia uma exploração de ouro a céu aberto que dista cerca de três quilómetros desta freguesia, a descoberta de um importante e significativo conjunto de gravuras rupestres e um trilho usado antigamente pelos carros de bois mesmo antes da construção da ponte de Casegas.
Casimiro Santos refere que “esta actividade insere-se numa mais abrangente que começou no sábado, 1 de Julho, com os festejos de S. Pedro, padroeiro de Casegas, com um arraial popular”. No dia seguinte jogos populares, o passeio pedestre “Na Rota das Gravuras Rupestres”, o banho ritual do S. Pedro e um almoço convívio no Lameiro da Ribeira são as actividades previstas.
Quanto ao principal motivo de interesse da caminhada, Luciano Branco, nos baldios logo por cima da freguesia da Erada, onde se concentra o maior número de gravuras rupestres, tentava explicar com um entusiasmo inaudito o significado das mesmas.
Para o IPA, a importância destas descobertas na cordilheira central da Serra de Estrela é de âmbito nacional. “Já fomos ao local das descobertas e, numa primeira análise, verificamos que as gravuras, cronologicamente, situam-se essencialmente no período da Proto-História, do período Moderno e até contemporâneo”. Explica o arqueólogo Carlos Banha, que de seguida acrescenta que “as gravuras podem considerar-se também pós-glaciárias. São inquestionavelmente um património científico de grande relevância, sendo possível visualizar antropomorfes (com figuras fálicas) fossetes (pequenas covas) povomorfes (desenhos de pés) feitos por abrasão ou por método de picotagem na rocha. Curiosamente, estes desenhos dos pés tem sempre uma orientação definida, como que indicando uma rota dos nossos antepassados”.
Na verdade, desde da descoberta à intervenção IPA não houve um espaço de tempo muito grande. Tal como referiu o responsável pela extensão da Covilhã do IPA, “foi importante agirmos com celeridade e já contactámos a Associação de Baldios da Erada e a Junta de Freguesia desta localidade para necessidade de preservarmos o achado. Por outro lado, também já registamos no Centro Nacional de Arte Rupestre (CNART) este sítio arqueológico e algumas localizações já se encontram na nossa base de dados”, garante Carlos Banha.
Ainda segundo o responsável serrano do IPA, o CNART vai muito brevemente destacar uma equipa de arqueólogos para proceder ao levantamento necessário. Um trabalho acompanhando de perto e supervisionado por um grande especialista da matéria como é o director deste organismo, António Martinho Baptista.
Seja como for, para os promotores da caminhada cujo objectivo era, no fundamental, divulgar as figuras rupestres, a iniciativa foi um êxito e cumpriu os desígnios a que se propôs. Em jeito de conclusão importa ainda referir que os primeiros caminheiros chegaram a Casegas por volta do meio dia cumprindo de seguida com o ritual do banho de S. Pedro, para depois atirarem-se à sardinhada que aconchegou o estômago dos participantes desta excelente jornada de convívio, de descoberta do passado e da arte rupestre.
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