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Racionalização do Superior

> António Fidalgo

Em tempos de vacas magras, com a necessidade imperiosa de cortar nas despesas do Estado e com a diminuição brutal de candidatos ao ensino superior, a racionalização da rede de ensino superior em Portugal tornou-se uma tarefa inadiável. É incomportável para o país manter múltiplos cursos em diferentes estabelecimentos, cada um deles com pouquíssimos alunos. Ter cursos idênticos ou similares em universidades e politécnicos públicos em cidades vizinhas ou até na mesma cidade, cada um deles com pouco mais de meia dúzia de inscritos em primeira matrícula não só constitui um gasto supérfluo, como é um atentado ao bom senso. Isso por um lado; por outro lado ainda, é insustentável manter cursos de banda estreitíssima, engenharias hortícolas e quejandas, que tiveram sucesso em tempos de expansão, mas que agora se arrastam sem alunos e sem sentido.
 O projecto de despacho ministerial de não abrir vagas para os cursos que o ano passado não tiveram 20 alunos inscritos no 1º ano ou então não tenham tido nos últimos 3 anos 40 alunos inscritos em primeira matrícula é sem dúvida uma medida drástica, considerando o panorama português, mas é uma medida que se impõe. A medida já vinha sendo anunciada desde o tempo do ministro Pedro Lynce. Agora que a situação se agravou, e ainda mais se agudizou a consciência da gravidade da situação, a medida é inevitável.
 Em termos gerais a medida é saudável, põe ordem no desregramento a que se chegou, aliás com as maiores culpas para o próprio ministério que deu o seu aval à criação de cursos de designação fantasiosa e delirante, e contribui significativamente para a racionalização da oferta educativa superior. Contudo, há que tomar precauções e não cortar a torto e a direito, para que não se morra da cura.
 Desde logo o Governo tem um problema grave de coesão nacional. As instituições mais lesadas com esta medida são as da interior do país. Os Politécnicos de Bragança a Beja, e as Universidades de Évora, do Algarve, dos Açores e, ainda que em menor grau, a UBI, serão duramente atingidos por esta medida. Tendo o ensino superior desempenhado um papel crucial no desenvolvimento regional nos últimos 30 anos, nomeadamente nas capitais de distrito, não existem ainda meios para substituir e suprir esse papel. A litoralização demográfica portuguesa é indubitavelmente potenciada como esta medida, em si positiva. Porém tem este efeito nefasto de contribuir para a desertificação humana do interior. O Governo da República irá bem se canalizar mais investimentos, geradores de emprego, para o interior, não em betão, mas em apoios, incluindo fiscais, a empresas que aqui queiram investir.
 Em segundo lugar, há que distinguir cursos e cursos. Ainda que os cursos de ciências exactas não estejam na moda e tenham poucos candidatos, uma universidade não pode ser pensada sem investigação e ensino justamente nessas áreas, em particular na matemática e na física. Os estudantes preferem hoje os cursos nas áreas da saúde e das artes. Mas a formação científica de base passa pelas ciências exactas e, por conseguinte, a crise da falta de estudantes não deve colocar em perigo cursos nucleares. Além disso, é preciso ter presente que há o factor moda na escolha de um curso e que as modas mudam muito rapidamente, muito mais rapidamente do que o tempo necessário a criar estruturas, sobretudo um corpo docente de qualidade, para uma boa formação superior. Lá por os estudantes abominarem a matemática e a física, não se pode deixar de apostar em departamentos fortes de matemática e de física.
A actual moda dos cursos de saúde, com cerca de 14 mil alunos inscritos em cursos de tecnologias da saúde, levará, é bom de ver, a uma avalanche de licenciados nessas áreas e correspondente desemprego. Passa-se do oito ao oitenta, sem que haja uma planificação a tempo e ordenada da oferta e da procura. Hoje são muito poucos os alunos que escolhem os cursos de formação de professores, justamente porque há professores a mais para as vagas de ensino disponíveis. Mas o factor tempo joga a favor de quem sabe fugir aos modismos e procura cumprir a sua vocação, remando contra a multidão.
A referida medida geral de fixação de vagas é de saudar, até porque permitirá reforçar cursos de qualidade. Com efeito, o encerramento de cursos que se arrastam com meia dúzia de alunos obrigará os estudantes a optarem por cursos com mais massa crítica ou então a escolherem cursos de banda mais larga. Apenas se pede e exige que não se aplique a medida às cegas, mas com peso, conta e medida. Incluindo aí, claramente, uma aposta no Interior de Portugal.

> net @ clix . pt em 2006-06-18 17:39:18
Para além da racionalização anunciada que, se se concretizar, será uma pedrada no charco. é necessário ensinar ao alunos do secundário que não existem facilidades em nenhuma profissão honesta. Isto é, uma das causas para a média elevadíssima das lic de Medicina é a crença que depois de atingido esse posto há um mundo de reconhecimento e mais valia financeira. Tal não é verdade. A Medicina é uma arte/ciência belissima (não fosse eu estudante de Med aqui na UBI) mas exige muito: esforço intelectual,tempo, disponibilidade bem como desgaste emocional (na fragilidade do outro vemos as nossas debilidades). Por isso de pc vale cortar nos cursos publicos se persistir a persiguição de um el dorado que, é claro, não existe. Essa ilusão será sempre explorada ganaciosamente por algumas univ privadas que hipotecam o futuro deste país. Obrigado pela oportunidade dada pelo novo URBI em expressar esta opinião.


Data de publicação: 2006-06-06 01:05:20
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