“É raro encontrar um político tão consistente como Guterres, estamos perante uma personalidade exemplar”, começou por afiançar Alfredo Bruto da Costa, personalidade que apadrinhou o doutoramento Honoris Causa de António Guterres. Para o actual presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, António Guterres foi um dos líderes que mais se destacou na actividade cívica e política “para combater a pobreza e a exclusão social”. Factos que ligados a um vasto leque de actuações fazem com que “esta distinção seja totalmente meritória”, entregue no 24º aniversário da UBI.
João Queiroz, reitor da UBI e principal mentor desta atribuição, refere também que “os percursos do engenheiro António Guterres e da Universidade da Beira Interior cruzaram-se, de modo particular, quando, no exercício do cargo de Primeiro-Ministro, entre 1996 e 2002, contribuiu para a aprovação da criação da Faculdade de Ciências da Saúde nesta universidade”.
Para além deste episódio, da sua ligação à região, da passagem pela chefia do governo, Queiroz lembrou ainda os vários papéis desempenhados por Guterres “ao nível internacional, na liderança do esforço para solucionar a crise em Timor-Leste; crise e solução que emocionaram Portugal”. Este doutoramento serviu também para distinguir “as trajectórias humanistas do político, as suas inúmeras diligências e esforços diplomáticos que resultaram na autodeterminação do povo de Timor, direito do qual havia sido privado em 1974”.
Um dos pontos que João Queiroz sublinhou também na sua intervenção diz respeito ao trabalho que António Guterres actualmente desempenha como Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados. O agora doutor Honoris Causa pela UBI “lidera uma das mais importantes agências humanitárias do mundo, contribuindo, assim, de forma decisiva, para a afirmação internacional de Portugal”.
Quem também marcou presença nesta homenagem a Guterres foi José Sócrates. O actual Primeiro-Ministro, membro das equipas ministeriais lideradas por António Guterres, veio à Covilhã lembrar o papel decisivo que o mais recente Honoris causa da UBI teve na criação do curso de medicina. Sócrates acrescentou que para além desta ligação à academia covilhanense, da ligação de vida à região, Guterres é “o político com a inteligência mais vibrante”que já conheceu.
O novo doutor Honoris Causa, no seu discurso aos convidados começou por lembrar o gesto da UBI “que me tocou profundamente”. Numa intervenção onde deixou bem claro a sua não participação futura em cargos políticos, o antigo Primeiro-ministro preferiu centrar-se na temática da pobreza e da exclusão social. Guterres lembra que “a acção humanitária deve estar novamente no cerne das preocupações políticas”.
Numa análise do panorama político internacional, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados confessa que é sua firme convicção “de que hoje não seria possível a intervenção da comunidade internacional em Timor-Leste, isto porque a agenda dos Direitos Humanos tem vindo a perder terreno na política”. É por isso imperativo, garante o agora reconduzido alto-comissário, “chamar à política, todo o seu potencial”.