Variáveis emocionais e aprendizagem de matemática
1+1 = Problema matemático ou emocional?

A relação entre o problema das crianças com a matemática e as diferentes dinâmicas de pensar o “eu”. O auto-conceito infantil explicado numa conferência de matemática por Juan Castro, professor catedrático de Psicologia em Salamanca.


Por Cátia Felício

A relação das crianças com a matemática foi abordada na conferência

As crianças sofrem influências dos pais, mas também são afectadas pelos professores e pelo sistema de ensino. E isso reflecte-se no rendimento escolar. Afinal qual o problema das crianças com a matemática? Como compreender melhor os processos de aprendizagem? As respostas resultaram de várias investigações e trouxeram Juan Castro à conferência “Variáveis emocionais e aprendizagem de matemática”. O professor catedrático da Faculdade de Psicologia da Universidade Pontifícia de Salamanca veio à UBI, no dia 26 de Maio, para falar da relação entre auto-conceito infantil e rendimento nas matemáticas.
Mas o que é o auto-conceito? São diferentes dinâmicas de pensar o “eu”. Juan Castro explica que o auto-conceito diz respeito ao aspecto cognitivo. Há também a auto-imagem, que é referente ao campo do perceptivo e a auto-estima, que pertence ao campo afectivo. “Se não te vês a ti mesmo, é claro que não te podes valorizar”, explica relacionando a auto-estima (parte afectiva) com o auto-conceito. Adianta que o auto-conceito não é inato, é aprendido. “É modelado e remodelado através de experiências (…), sobretudo em relação com pessoas significativas para a criança”.
O professor critica o sistema de educação. “Em muitas situações, um dos problemas do sistema educativo é que quando se instala um novo sistema não se pergunta aos professores a sua opinião. Pelo menos em Espanha ninguém lhes pergunta o que faz falta ao sistema educativo”. E acrescenta: “Um doente é um doente. Uma criança é uma criança, não é a nossa teoria”.
Ao apresentar as implicações do auto-conceito infantil, diz tratar-se de algo distinto. “Com base nas experiências prévias, o indivíduo pode perceber-se de si de forma diferente daquela que os outros o vêem”. Se uma criança pensa as coisas à sua volta no sentido contrário, pode constituir uma ameaça. “E aqui está a raiz de muitos problemas emocionais”, uma vez que cria-se interpretações negativas de si mesmo.
Juan Castro defende que há que manter a flexibilidade no auto-conceito da criança. Os extremos podem ser prejudiciais, tanto o da “mãe-galinha”, que é super-protectora, como o estilo do ‘deixa fazer', tendo como resultados adolescente violentos. “Roma não se construiu em uma hora” e o mesmo se passa com o auto-conceito, exemplifica.
Ao longo da conferência, o professor aproveitou para abordar o valor do auto-conceito, as suas repercussões no desenvolvimento intelectual da criança e na aprendizagem da matemática. Relacionando-o com o rendimento escolar, diz que o auto-conceito sofre influências, por exemplo, durante a educação primária.