António Fidalgo
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Riqueza e religião
Portugal empobreceu comparativamente aos outros países da União Europeia. Ainda que vivamos numa civilização cristã, segundo a qual os bem-aventurados são os pobres e não os ricos, o que é um facto é que consideramos isso como algo vergonhoso. Dos políticos veio um apelo aos portugueses para aumentarem a sua produtividade e competitividade. O objectivo nacional é enriquecer e não empobrecer.
Seria, todavia, melhor ter uma outra perspectiva sobre a riqueza, vê-la mais como consequência do que como objectivo. São coisas com efeito muito distintas, enriquecer como finalidade e enriquecer com modo de vida. Querer ser rico, ter muito dinheiro pela razão de o ter, é vulgar. Significa isso levar uma vida em que o dinheiro tudo justifica, porque ele é o fim e sentido da vida. Outra coisa muito diferente é enriquecer como resultado de um vida laboriosa, conduzida com bom senso, em que se cultivam valores como o trabalho, a solidez de carácter, a simplicidade, a frugalidade.
Quando de Portugal se olha para os países escandinavos e se inveja ou cobiça a sua riqueza, não se tem em conta que a riqueza lá advém mais de um modo de vida do que de uma finalidade. Isso já foi há muito explicado por Max Weber no livro “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”. A questão fundamental do atraso português não é económica, política, mas sobretudo religiosa. Foi isso que, já no Século XIX, Antero de Quental referiu na célebre conferência do Casino: a primeira causa dos povos peninsulares é de origem religiosa.
Ter dinheiro e aplicá-lo em novos investimentos, não o gastar em objectos de luxo, em Ferraris ou quejandos, é uma questão também religiosa. É de um ponto de vista religioso, que a vaidade, a luxúria, a preguiça, são pecados capitais. Se em Portugal houvesse uma maior religiosidade, entendida esta não no sentido superficial de frequência de actos religiosos, procissões, promessas, mas no sentido de uma transformação de vida, então a consequência seria inevitável: uma vida mais autêntica, com menos fitas, mais laboriosa sem fingimentos (faz que trabalha mas não trabalha), mais simples, mais sóbria.
O que explica que em países ricos não haja os sinais exteriores de riqueza que se verificam em países mais pobres são, na maioria dos casos, razões essencialmente religioso-culturais. Esses sinais são justamente sinais de uma maneira de ser e de viver que vê no dinheiro uma finalidade e não o resultado, oblíquo, de uma conduta de vida. Os portugueses não deveriam copiar fosse que país fosse, por mor da sua riqueza ou do seu sucesso económico, mas pelos valores que norteiam esses povos. Copiar o que de bom têm e evitar o que de mal têm, tal como preservar o que de bom temos e expurgar o que de mal temos. Afinal, são estas máximas religiosas que traçam o destino económico, político, social e cultural das nações.
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