Até há uns tempos atrás, a aldeia era aquele sítio, no meio de nenhures, onde nada se passava. As casas de pedra, o sossego feito do silêncio, as fontes para os animais, as capelinhas dedicadas aos santos em que o povo deposita a sua fé. Hoje, este espaço rural, que nada tinha para oferecer, começa a ser privilegiado. A preocupação com a “morte” das aldeias fez surgir um novo conceito de ruralidade.
A intervenção no património rural, requalificando as aldeias e dotando esses espaços de alguma qualidade, deve ser um cuidado a que os futuros profissionais da arquitectura e engenharia civil não vão poder fechar os olhos. Foi por isso que o Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura da UBI, organizou uma conferência destinada a sensibilizar os estudantes destas áreas para importância da sua intervenção nesta nova realidade. “A sensibilização é difícil, mas deve ser feita”, argumentou a conferencista Ana Cunha, na qualidade de arquitecta.
O enriquecimento das aldeias prende-se com uma qualidade que, neste momento, ainda, não há. E a aposta vai nesse sentido. “Criar actividades interessantes, que tragam de volta os filhos do campo”, afirmou a conferencista. Só que ao regressar, estes filhos trazem novos horizontes e já não estão dispostos a perder a qualidade de vida que alcançaram lá fora. “Com outras possibilidades financeiras, vão querer transpor, de alguma maneira, as qualidades do sítio onde estavam”. E isso acaba por ser dissonante para a sensibilização. Em termos de materiais ou de volumetria da casa, pode ter-se o mesmo espaço de qualidade, mas respeitando a arquitectura do local. É esta a mensagem que os futuros licenciados em arquitectura ou engenharia civil deverão passar.
Nas aldeias do xisto é possível contemplar a requalificação de algumas aldeias. O projecto engloba 23 aldeias, de dois municípios e já garantiu algum sucesso. “Janeiro de Cima ou Barroca demonstram-no bem”, rematou Ana Cunha, também coordenadora do GTL da Gardunha, que desenvolve este projecto.
Como arte que é, a arquitectura tem um fim estético. No entanto, o professor Paulo Neves deixou claro que “o que faz a boa arquitectura é resolver os problemas do quotidiano das pessoas, produzir para as pessoas um lugar agradável e confortável, correspondendo ás necessidades do próprio espaço”.
Hoje em dia, existem inúmeras construções sem as assinaturas de um arquitecto ou engenheiro. “Se não se recorrer à formação adequada em relação aos espaços construídos, a resposta não será, certamente, adequada”, concluiu. |