Dois docentes americanos falaram sobre a cultura nativa dos EUA
Cultura ameríndia
As raízes da América

Dois dos mais consagrados investigadores sobre a escrita e a cultura dos nativos americanos estiveram na UBI. O pós colonialismo e as representações criadas em torno dos índios foram o mote para uma palestra diferente.


Por Eduardo Alves


O som de um pequeno tambor índio e as vozes dos dois visitantes da UBI serviram para encerrar uma sessão de esclarecimento sobre a cultura ameríndia. O tema pode não dizer muito ao Velho Continente, que sempre assistiu passivo à criação de estereótipos, pelas produções cinematográficas de Holywwod. Mas para Gordon Henry Jr. e Patrick Russel Lebeau, este assunto é um modo de vida.
Ambos professores na Universidade Estadual do Michigan têm vindo a desenvolver um importante trabalho ao nível da escrita e da cultura sobre os nativos americanos. De passagem por Portugal, o Departamento de Comunicação e Artes estendeu o convite a estes dois investigadores que se deslocaram à Covilhã para falar sobre os seus trabalhos.
Gordon Henry foi o primeiro a introduzir a temática da cultura ameríndia. Poeta e romancista Anishinabe este membro inscrito da White Earth Chippewa Tribe do Minesota, refere que “o problema actual é que o colonialismo está a dar lugar ao imperialismo”. Para além de tudo o que foi destruído pelos colonos ingleses e da imagem cinematográfica dos índios, “a actual cultura norte-americana, tende a colocar de fora as suas raízes”. Este poeta que recebeu o American Book Award em 1995, através do seu romance “ The Light People ” explica que “o vasto imperialismo e o pós colonialismo inglês tiveram repercussões enormes na América que hoje conhecemos”. Professor associado no Departamento de Estudos Ingleses/Americanos da Universidade Estadual do Michigan, onde também lecciona cursos em Literatura Americana , Escrita Criativa e Literatura Ameríndia, Gordon Henry Jr. adianta que existe “um poder muito forte”, baseado na escrita norte-americana de grande tiragem, “que tende a colocar de fora da cultura ameríndia, os primórdios daquele povo”. Este docente e escritor, que já passou pela Holanda, Espanha e Alemanha alerta para o facto de que “em todos os países onde se fala neste assunto encontraram-se as mesmas teorias sobre os primórdios dos Estados Unidos da América”. Teorias que surgem “de estereótipos criados pelo cinema e outras imagens”. Este estudioso considera que o assunto é referente “a uma questão educacional”, a qual se tem de corrigir progressivamente.
Patrick Russel Lebeau é outro estudioso e escritor sobre a cultura nativa. Este membro inscrito da Cheyenne River Sioux Indian Reservation of South Dakota lembra que “conhecer a cultura e os hábitos ameríndios, de forma profunda e certa, vai ajudar a compreender as raízes do povo norte-americano”. Professor de Retórica de Escrita e Culturas Americanas na Universidade Estadual do Michigan, Lebeau não se cansa de dizer que “se tem vindo a fazer uma promoção de uma determinada imagem que não tem muito a ver com as raízes culturais de alguns povos”.
O problema, para este estudioso está nas formas de agir de determinados sectores, “que não vão desaparecer a tão curto prazo, uma vez que existem muitas pessoas a fazer dinheiro com os índios”. Lebeau é também director do Programa de Estudos Índio-Americanos e explica que o objectivo deste tipo de eventos “é elucidar as pessoas para o que está errado no que consideram como cultura índia e tentar corrigir o estereótipo que existem sobre os índios americanos”. Estes dois estudiosos vieram a Portugal, “não para estarem exclusivamente na UBI, mas para participarem numa série de conferências”, lembra Anabela Gradim, docente no Departamento de Comunicação e Artes da UBI e uma das responsáveis pela deslocação dos dois investigadores à Covilhã.