I Congresso Internacional de Filosofia para Crianças
É hora de pensar

Cada vez mais se chega à conclusão que a maior parte dos jovens e adultos têm dificuldades em criar um pensamento rigoroso e fundamentado. A Associação Portuguesa de Aconselhamento Ético e Filosófico (APAEF) vem assim, por meio de um encontro de especialistas, incentivar à criação de um modelo de reflexão que se deve iniciar desde as mais tenras idades.


Por Liliana Ferreira

Pensar os desafios da Filosofia foi uma das metas deste evento

Porque é que somos maus? Porque mentimos? Porque gostamos de alguém? Porquê? Porquê?... É na idade dos porquês que tudo principia. Tendo em conta esta ideia, um conjunto de peritos reuniu-se esta segunda-feira, 8 de Maio, no Auditório da Universidade da Beira Interior (UBI), a fim de expor diversos estudos e debater a perspectiva de um projecto colectivo de Filosofia para e com crianças. Em colaboração com o Departamento de Artes e Letras da UBI, a APAEF lançou o desafio e durante todo o dia vários estudiosos deram o seu contributo para estruturar a ideia de que é possível sonhar com um programa curricular de Filosofia que comece no início do percurso escolar dos mais novos.
Uma criança é naturalmente curiosa e criativa, anseia a descoberta no seu relacionamento com o mundo que a envolve. A magia que cria nos seus universos paralelos à realidade ajuda-a a criar a sua linguagem e formar um raciocínio próprio. Para a ajudar a consolidar um pensamento autónomo é necessário estimular a reflexão e o auto questionamento, o que nem sempre acontece. Ana Monteiro, coordenadora do Núcleo Regional da Beira Interior da APAEF, considera que «a introdução do estudo da Filosofia ainda na primária será uma mais valia para a sociedade. A Filosofia está apta a dar, desde cedo, instrumentos mentais de crítica e atitude autónoma».
A metodologia deste projecto – devolver o questionamento da própria criança à criança – pode ser aplicável a várias áreas do ensino e ser leccionada pelos diversos docentes, que necessitarão apenas de uma formação prévia de forma a serem, como defende a conferencista Maria José Rego, «não apenas professores, mas mais do que isso, orientadores.
É necessário estar ao nível das crianças, incentivando-as a debruçarem-se sobre o seu próprio pensamento independentemente da idade que têm». Este método consolida o plano de aprendizagem que não se baseia apenas em depósito de conhecimento mas, também, numa aposta nas potencialidades do pensamento, criando uma cosmovisão cada vez mais apurada e coerente.
Ao propor este evento Jorge Dias, presidente da APAEF, pretendeu confirmar a ideia de que «existe a necessidade de um novo projecto que ensine os mais pequenos a pensar, para que estes se tornem de futuro cidadãos interventivos e exigentes, cientes das suas competências, e de que a cidadania não se exerce apenas pelo boletim de voto preenchido». Há, segundo adianta, «ainda muito a ser feito neste campo, contudo as primeiras pedras já foram lançadas. Com o aval do Ministério da Educação acredita que muito pode ser feito e que o futuro poderá ter boas perspectivas».
Outros conferencistas marcaram presença num Congresso que primou não só pela qualidade das intervenções, como pela grande afluência que suscitou. No rol de especialistas na matéria deste primeiro congresso estiveram nomes sonantes do panorama internacional do assunto como é o caso de Félix Garcia Moriyon (Universidade Autónoma de Madrid) e Óscar Brenifier Instituto de Práticas Filosóficas).