A prostituição continua a ser um problema social do qual pouca gente quer falar. E quando de discute a regularização das «casas de passe» no nosso País, as divergências de opinião ainda são muitas. Inês Fontinha e Ângela Sabino, do Movimento Democrático das Mulheres, têm uma visão muito clara sobre o assunto, e
são contra a legalização desta actividade. Ângela Sabino sublinha mesmo que a
legalização “ não se trata de liberdade mas sim de tortura”.
O debate com Inês Fontinha começou por ser uma contextualização do surgimento das
discussões sobre a legalização dos bordéis. A dirigente da Associação “O Ninho”
afirma que os governos defendem esta legalização com base na saúde pública: “Alguns governos pensam que a regularização das casas de passe seria um passo no
sentido de maior segurança para a saúde pública” refere.
Para Inês Fontinha, existe neste argumento um sentido discriminatório, visto só
estarem as mulheres sujeitas ao rastreio, para não contaminarem os homens: “A
igualdade de género caiu por terra quando a mulher é considerada um objecto”
declara. Considerar a prostituição como um trabalho como outro qualquer e facilitar o
recrutamento para a prostituição até junto das escolas, são algumas das previsões
que Inês Fontinha desenvolveu no debate, para mostrar as consequências de uma
possível legalização da prostituição no nosso País. De forma a exemplificar estas
situações, recorreu ao caso da Alemanha, que legalizou o proxenetismo e a “indústria do sexo” em 2002. Inês Fontinha relatou à plateia um caso polémico
na ocorrência do próximo Campeonato do Mundo do Futebol na Alemanha. Os industriais do sexo construíram um gigantesco complexo para a prática da prostituição: “É uma estrutura que pode acolher 650 clientes, erigida ao lado do estádio principal”.
Ainda expôs outra situação, de uma mulher que se dirigiu a um centro de emprego
alemão à procura de um trabalho, e onde lhe propuseram trabalhar num bordel. Inês
Fontinha explica que este tipo de situação ocorre porque através da legalização da
prostituição, o estado angaria muito dinheiro, “na Holanda a prostituição
representa sete por cento do produto interno bruto”, constatou. A indústria do sexo consegue rivalizar com o tráfico de armas ou de droga, pois como afirma Fontinha “uma mulher é reciclável centenas de vezes enquanto que a droga não”.
O combate às causas que levam as mulheres a prostituir-se é, para a nomeada ao
Prémio Nobel da Paz, o principal trabalho a realizar, de forma a contribuir para a “utopia” de acabar de vez com a prostituição. No “imaginário” de muita
gente, ainda está a ideia de que as pessoas que se prostituem “estão lá porque
querem”. Inês Fontinha já acompanhou 7000 mulheres e afirma que 90por cento tinham sido vítimas de violação durante a infância. A plateia, composta por professores,
operários, gente ligada a administração local e às colectividades da região,
participou de forma muito activa no debate, colocando várias dúvidas à oradora e
desenvolvendo comentários próprios. A coordenadora do distrito de Castelo Branco dos
sindicatos da região Centro, Dulce Pinheiro, mostrou-se bastante satisfeita com o
debate, que integrou o programa das comemorações do 25 de Abril.
A organizadora da iniciativa sustentou a realização desta “ conversa” com Inês
Fontinha como “uma discussão que tem tudo a ver com aquilo que foi a raiz do 25 de
Abril, na defesa dos direitos humanos, da igualdade, na diferença entre o homem e a
mulher” frisa Dulce Pinheiro. Sob o lema “25 de Abril, Porque é preciso” estas
comemorações são levadas a cabo por várias organizações sindicais, associativas e
recreativas do concelho da Covilhã e terminam no dia 30 de Abril com uma peça de
teatro “O elixir dos desejos” de Michael Ende, no Teatro das Beiras. |