Os bombeiros não concordam com o encerramento de qualquer maternidade na região, devido às distâncias a percorrer. E receiam se tiverem de assistir ao parto no caminho, houver complicações e estiverem muito longe do hospital. Caso algum dos blocos de parto da Beira Interior venha a encerrar, não têm dúvidas que o número de crianças a nascer nas ambulâncias vai aumentar consideravelmente.
Francisco Barros, 50 anos, é bombeiro há 28 no Fundão e em tanto tempo de serviço já não sabe ao certo quantos partos assistiu a caminho do hospital. Tal como pelo menos um elementos em cada equipa, tem o curso de Técnico de Ambulância de Socorro, o que inclui formação na área do parto. Mas sublinha que a acção dos bombeiros é limitada e tem receio que algo corra mal. “Nós temos preparação e felizmente as coisas têm corrido bem. Temos tido sorte. São partos normais, é só segurar, limpar a criança, cortar o cordão umbilical e levá-la ao hospital. Mas não sou nenhum herói, tenho receio que as coisas corram mal”, confessa.
Samuel Marques, 20 anos, é bombeiro na Covilhã e ainda há relativamente pouco tempo que está na emergência pré-hospitalar. Este ano assistiu o primeiro parto, em Verdelhos. A criança acabou por nascer em casa e pediram o auxílio da Viatura de Emergência Médica. Apesar de cada vez terem mais preparação e estarem melhor equipados, diz que “saber que se está mais perto do hospital dá mais tranquilidade”, para o caso de haver imprevistos.
“Vai dificultar trabalho dos bombeiros”
Uma opinião partilhada pelo comandante, José Flávio. “Se a maternidade encerrar isso vai dificultar o trabalho dos bombeiros. No caso de aparecerem situações com complicações, a situação agrava-se se a maternidade estiver mais longe”, frisa. “Não consigo imaginar que uma pessoa de Verdelhos, que fica a 45 minutos da Covilhã, ainda tenha que ir para Castelo Branco, ou que uma grávida de Vila Velha de Ródão ou Oleiros tenha de vir para a Covilhã”, salienta.
José Flávio observa ainda que “se até nos hospitais, onde têm todas as condições, por vezes as coisas se complicam, os bombeiros, numa situação dessas, não têm capacidade de resposta”. E acrescenta que “é um erro encerrar alguma maternidade, porque a vida é o mais importante”. Francisco Barros foca também este aspecto e acentua que “se o Governo quer reduzir custos que comece pelos elementos do Governo e pelos gestores das empresas públicas”.
“Isso vai de certeza aumentar drasticamente o número de bebés a nascer nas ambulâncias”, vaticina Francisco Barros, lembrando-se das muitas deslocações que já teve de fazer a locais como Bogas. “As três maternidades são importantes tendo em conta as vias de comunicação do terreno. Se já hoje nascem crianças nas ambulâncias, calculo que o número aumente”, prevê José Flávio.
“As distâncias fazem a diferença”
Hélio Pinto trabalha há três anos na emergência pré-hospitalar e entende que “desde que os parâmetros vitais estejam assegurados, o tempo até chegar ao hospital não é muito relevante”, mas acrescenta que se o parto não for normal o factor tempo já é bastante importante. Apesar de se mostrar contra o encerramento de qualquer bloco de parto na região, Hélio Pinto considera, sendo “realista”, que caso algum feche compreende que seja o da Covilhã. Por estar no meio e porque “a Guarda tem locais mais isolados e piores acessos”.
Francisco Barros realça que “as distâncias fazem a diferença”. “Para Bogas são 60 quilómetros por estradas complicadas. A acelerar, demora-se 45 minutos para o Fundão. Se a grávida tiver de ir para a Guarda faz mais 60 quilómetros , o que dá 120 quilómetros . É muito caminho a percorrer”.
O bombeiro fundanense acrescenta que nem sempre é previsível quando a criança vai nascer. E conta que já lhe aconteceu ter sido chamado para ir pôr grávidas ao hospital, mandarem-nas para casa e algumas horas depois ser novamente chamado porque a criança está prestes a nascer.
“Os senhores do Governo deviam viver aqui, ter aqui as esposas, para ver se pensavam da mesma maneira”, argumenta. “Eles querem que as pessoas tenham mais filhos, mas depois tiram estas coisas e esquecem-se que o hospital fica a muitos quilómetros de distância. Os pais não ficam descansados e não é assim que se fixa cá população”, critica. |