A conferência decorreu na Sala Beira do Hotel Turismo e teve como objectivo uma discussão multidisciplinar abordando três grandes perspectivas: a violência, o trauma e os comportamentos suicidários, e era dirigida a pessoas ligadas aos cursos de Psicologia e Medicina da Universidade da Beira Interior, e também às Escolas de enfermagem da Região. Mais de 400 pessoas vieram de todo o País, discutir e trazer contributos acerca do tema. Estiveram presentes alunos e docentes da academia covilhanense, bem como peritos de psiquiatria portugueses na área da suicidologia.
A violência e a agressão entre os jovens, nomeadamente adolescentes, tem vindo a tornar-se, cada vez mais, um problema social. Os jovens de hoje recorrem às drogas e à auto-mutilação em busca de identidade, pois têm necessidade de descobrir quem realmente são.
As razões que levam a comportamentos violentos, e também ao suicídio, são, na sua maioria, antecedentes de abusos sexuais e uma vida familiar negligente. Estes jovens sentem-se muito solitários, e este tipo de comportamentos vêm substituir a linguagem verbal na expressão de sentimentos: a dor física afasta a dor psíquica.
Em média, na Covilhã, de dois em dois dias um jovem tenta o suicídio. Na sua maioria as vítimas são raparigas com idades compreendidas entre os 15 e os 25 anos. Carlos Leitão, Director do DPSM-CHCB, não considera a Covilhã como um caso grave na questão do suicídio, garantindo que “estamos dentro da média nacional, e o que se pretende com esta mensagem é que exista uma maior prevenção”. Apontou também algumas das razões que levam à tentativa de suicídio: “Normalmente é uma chamada de atenção, de alerta. Estes jovens sentem um desconforto interior, uma ruptura entre o seu mundo interno e o externo”.
As escolas desempenham um papel fundamental na vida de um jovem. Carlos Leitão mencionou que “é importante que os professores detectem e dêem apoio ao aluno; é elementar que existam professores mais atentos, e também psicólogos, nas escolas”.
A prevenção é fundamental, mas ainda não está ao alcance de todos, por isso muitas vezes os jovens só usufruem de apoio psiquiátrico após uma tentativa de suicídio, através das consultas de psicologia clínica no hospital. “É um privilégio que temos, trabalhar num hospital com um bom grupo de psicologia clínica”, referiu o Director do Departamento de Psiquiatria, realçando que “é importante a prevenção destes comportamentos”, nomeadamente nas escolas e no seio familiar.
A família é muito importante para o jovem, mas em muitos casos é a culpada de certos comportamentos. Por vezes, os jovens são abusados sexualmente ou são vítimas de maus-tratos, o que mais tarde poderá conduzir à toxicodependência, à agressão, à auto-mutilação e ao suicídio.
“Saber Viver” foi um dos apelos deixados no finalizar deste evento, pela Presidente de Mesa, Antonieta Garcia, que ainda chamou a atenção para um maior cuidado das escolas neste sentido, e também para a existência de mais e melhor comunicação entre as pessoas. |