Manuela Penafria apresentou uma tese de doutoramento na UBI onde a hipótese geral de trabalho é propor o termo de Documentarismo. Este termo é visto como “a designação de uma perspectiva que coloca em destaque diferentes modos de ver o mundo através do cinema e no cinema”. Desta forma, a autora da tese refere que o documentarismo resulta da “dificuldade em distinguir o registo documental do registo ficcional”. Este estudo dá uma nova contextualização ao documentário através da filmografia de António Campos, realizador português unanimemente reconhecido como documentarista.
Foi na obra deste realizador que Penafria se baseou para tentar recontextualizar alguns conceitos. A autora da tese defendeu que em António Campos “o cinema tem uma missão tão importante quanto urgente a cumprir que é a de filmar o presente”. Segundo esta investigadora, “António Campos tomou esta missão como sua e empenhou-se profundamente na mesma”. Um dos pontos que mereceu destaque na obra de Campos é a ligação deste realizador ao povo. “Está sempre ao seu lado e solidário com os seus problemas”, recorda Penafria. Segundo esta docente da UBI, a filmografia de António Campos encontra-se enraizada na vida do povo português, mas essa filmografia caracteriza-se, essencialmente, “por prestar homenagem às mulheres, à mulher-mãe e à mulher capaz de executar trabalhos pesados”. A Invenção do Amor , Vilarinho das Furnas , Falámos de Rio de Onor e Um Tesouro foram apenas alguns dos filmes deste realizador analisados no âmbito deste estudo.
Manuela Penafria acrescenta ainda que “António Campos é conhecido como realizador etnográfico e sem estilo”, mas esse é um discurso que não encontra eco na sua obra, muito em especial no que se refere ao estilo cinematográfico. Este foi definido como “a poesia com os pés na terra” para destacar que se trata de um realizador que fez as suas escolhas cinematográficas sem afectar a riqueza de conteúdo presente na sua obra.
O documentário pode servir para pensar o cinema, é uma “porta de entrada” para a sétima arte. Em Portugal também existe uma tradição de se fazerem documentários, “está é a trabalhar-se no vazio, muitas vezes”, refere a autora da tese intitulada “O Documentarismo do Cinema – Uma reflexão sobre o filme documentário”. Uma tese onde Penafria lembra que “o cinema apresenta sempre uma componente documental”. Isto porque, “o documentarismo não é já e apenas uma praxis de carácter estritamente documental, mas passa a dizer respeito a uma ligação ao mundo através do cinema”.
O júri destas provas foi constituído por António Carreto Fidalgo, professor catedrático da Universidade da Beira Interior, João Mário Lourenço Bagão Grilo, professor associado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Edmundo José Neves Cordeiro, professor associado da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Joaquim Mateus Paulo Serra, professor auxiliar da Universidade da Beira Interior, Frederico Nuno Vicente Lopes, professor auxiliar da Universidade da Beira Interior, José Alexandre Cardoso Marques, professor auxiliar da Universidade da Beira Interior e Március César Soares Freire, professor assistente da Universidade Estadual de Campinas. |