António Fidalgo

A ideia de UBI


Uma mudança pode ser uma ameaça ou uma oportunidade; uma dificuldade pode ser um empecilho ou um desafio. Tudo depende de quem enfrenta a mudança ou a dificuldade. As mudanças e as dificuldades que as alterações a introduzir nas universidades inevitavelmente provocarão com a entrada em vigor do Decreto-Lei sobre os graus académicos (o Decreto de Bolonha) devem ser encaradas pela UBI como momento único de afirmação e de consolidação como universidade.

Há quem tenha a sorte de viver tempos de mudança, onde os caminhos feitos deixam de ser viáveis, e imperioso se torna arranjar novas vias. Foi assim para quem viveu em Portugal os anos de 74 e 75. Tempos difíceis é certo, tempos de loucura mesmo, de um país que mudou de regime político ao fim de 48 anos. Mas também tempos de oportunidades únicas, de descoberta, de aventura. Agora passa-se algo parecido com as reformas em marcha no ensino universitário. Que é um primeiro ciclo? Politécnico ou universitário? Que é um segundo ciclo? Como se conjuga o primeiro ciclo com o segundo? E como encaixar o terceiro ciclo? Como pensar em conjunto os três ciclos?

Quem tivesse abraçado a carreira do ensino superior há 40 anos atrás teria uma carreira traçada à sua frente. Os cursos universitários eram os tradicionais, e o que se esperava do novo académico era que ensinasse esta ou aquela disciplina e que em determinado momento fizesse o seu doutoramento. As sebentas repetiam-se de ano para ano, de década para década, e o princípio condutor de toda a actividade académica era a continuidade: prosseguir na mesma senda. Pondo fim a tudo isso, o processo de Bolonha constitui felizmente um momento de viragem nas universidades portuguesas. As estruturas curriculares têm de ser alteradas, a lógica de funcionamento de graduação e pós-graduação muda radicalmente, aos alunos é-lhes facilitada a mobilidade entre instituições universitárias do mesmo país e dos outros países da UE.

A UBI tem muito a ganhar com as presentes alterações. Nada menos está em jogo do que a própria ideia de universidade e, consequentemente, daquilo que a UBI deve ser: uma comunidade de investigação científica e de ensino das ciências. A formação científica de base, ampla, de um primeiro ciclo, a obrigatória orientação do finalista do segundo ciclo por parte de um professor, a generalização do terceiro ciclo são factores para realizar aqui e agora na Beira Interior um espaço de saber, onde floresçam as ciências e a sua aquisição seja acessível, não só por parte dos alunos, mas por parte também das novas actividades comerciais, empresas e serviços. O saber universitário não é tanto o que se sabe, o que vem nos livros e se escreve neste ou naquele artigo, é, antes de tudo o mais, o ambiente de procura e pesquisa científica e sua transmissão o mais abrangente possível que anima docentes e alunos.

Uma universidade compreende os três ciclos. É sobre este princípio simples que deve assentar a ideia de UBI, pela simples razão de que a ideia de universidade desde sempre contemplou o saber por mor do saber. Não podemos fixar-nos somente no primeiro ciclo, porque esse sairia prejudicado, caso não fosse inspirado pelo conhecimento avançado que se respira no terceiro ciclo, no ciclo de doutoramentos, de feituras de teses de investigação.

A geografia joga contra nós? A demografia é uma dificuldade? A juventude deve ser ultrapassada? Se há coisa que tem o espírito é que sopra em qualquer parte e em qualquer tempo. O saber é espírito. Não há latitudes ou longitudes favoráveis ou desfavoráveis à ciência. Há sim ambientes mais ou menos propícios e os ambientes são feitos por quem neles habita. A UBI soube em determinadas áreas marcar uma presença forte em Portugal, no mundo lusófono e no espaço ibérico. Trata-se agora de voluntária e estrategicamente apostar nessas fortalezas, espicaçar as áreas mais débeis, exigir a todos trabalho (isto é, estudo, estudo, estudo) e criar excelentes cursos de terceiro ciclo. Nada de menos se exige. Desejamos tanto criar primeiros ciclos da melhor qualidade a fim de que os alunos aí formados tenham acesso a quaisquer segundos ciclos de Portugal ou do estrangeiro, como pretendemos estabelecer doutoramentos atractivos para os bons alunos do litoral português e do estrangeiro.
Em poucas palavras. A ideia de UBI é a de três ciclos des estudos (licenciatura, mestrado e doutoramento) a funcionar em pleno.