António Fidalgo

Covilhã 2029


Alguém em 1983 escreveu numa placa de sinalização na Serra da Estrela a seguir à palavra Covilhã “cidade fantasma”. A crise económica e social então era negra. Pior do que a situação real das muitas fábricas a fechar e da miséria daí resultante para muitas famílias, era a ausência de perspectivas para a cidade. Passaram-se 23 anos dessa data. A Covilhã em 2006 nada tem de cidade fantasma. É impressionante o ritmo de crescimento da cidade. Não apenas os prédios, mas sobretudo o aparecimento de sinais de uma cidade moderna: edifício da Faculdade de Ciências da Saúde, Parkurbis, Serra Shopping. Altura para colocar a questão: Como será a Covilhã em 2029, daqui a outros 23 anos?

Podemos calcular o desenvolvimento da cidade a partir da situação actual, independentemente dos actores políticos, económicos e sociais. Em princípio, tudo leva a crer que a Covilhã se afirmará como o centro urbano do eixo constituído pela A23. Que a cidade terá um crescimento sustentado pela UBI e pela associação desta ao Parque Industrial e que o turismo de montanha será cada vez mais um factor determinante na actividade económica da cidade. Depois há a margem de actuação do Governo central. Se houver uma aposta governamental forte na zona, mediante incentivos a uma empresa de grande dimensão, então a cidade beneficiará com isso.

Contudo, mais importante, do que em jeito realista, analisar o provável crescimento automático da Covilhã, é assumir uma posição voluntarista, aquilo que se quer para a Covilhã de 2029, e mobilizar os actores políticos e sociais para isso. Ou seja, mais importante do que traçar um quadro do que será a Covilhã daqui a 23 anos, será fazer um projecto do que se pretende para a Covilhã de 2029. Passos Morgado, reitor da UBI de 1980 a 1996, afirmava nos seus discursos, a importância de haver um aglomerado urbano de 200 mil pessoas como base da UBI. Hoje exige-se que uma Faculdade de Medicina e os Hospitais a ela associados tenham uma população de 500 mil pessoas de modo a colherem as patologias necessárias ao seu funcionamento. Desenhar um projecto e traçar uma estratégia para a Covilhã de 2029 compreende desde logo aumentar a população. É possível, de facto, não só segurar a população residente, e estancar o despovoamento que desde a década de 60 assolou todo o interior de Portugal, como sobretudo atrair gente do litoral, dos grandes centros urbanos Lisboa e Porto, para aqui. Atrair mediante oportunidades de emprego, em sectores de futuro, em áreas como investigação, saúde, turismo, e oferecendo também uma qualidade de vida que não tem par nas metrópoles.

A Covilhã de 2029 chegará sempre, mas sempre de uma de duas maneiras, ou arrastada simplesmente pelo tempo, aceitando o determinismo dos acontecimentos, ou moldada por um projecto concebido e realizado pelos cidadãos que aqui habitam e trabalham. Exige-se um voluntarismo semelhante para os próximos 23 anos como o que levou a mudar a cidade radicalmente nos últimos 23, desde os tempos da Covilhã de 1983, cidade fantasma, até à cidade pujante de hoje.