José Geraldes

Violencia doméstica: monstros na casa


A violência doméstica continuou a aumentar em Portugal em 2005. As denúncias desta situação subiram 17 por cento em relação a 2004. As estatísticas revelam que uma em cada três mulheres portuguesas é vítima de violência. Todas as semanas uma mulher morre assassinada pelo seu companheiro ou amante.
A situação portuguesa assume contornos piores do que em Espanha. No país vizinho, no ano passado, foram mortas 62 mulheres pelos seus companheiros. Em Portugal, o número andou pelos 39. Mas Portugal tem dez milhões de habitantes, a Espanha quatro vezes mais. A violência doméstica adquiriu foros de um verdadeiro drama nacional.
A recente denúncia da conhecida jornalista Margarida Marante, vítima de maus tratos pelo companheiro, numa relação conturbada, veio trazer de novo para a ribalta este drama para a qual importa chamar a atenção.
Quais as causas da violência doméstica? A socióloga Elza Pais, presidente da Estrutura de Missão contra a Violência Doméstica, atribui as culpas, entre outras, à “cultura machista típica do Sul da Europa em que os homens, companheiros ou amantes disfarçados de “amigos”, têm muita dificuldade em aceitar que uma mulher possa rejeitá-los ou terminar uma relação”. Não aceitando o fim da relação, os agressores transformam-se em monstros de casa.
Outra causa prende-se com os “ciúmes patológicos” pelos quais os agressores não só batem nas mulheres como as humilham muitas vezes de forma doentia e sádica.
A técnica da violência doméstica, segundo os especialistas e terapeutas, apresenta um fundo comum.
Começa primeiro por isolar e afastar os amigos para os companheiros e amantes dominarem, a seu bel-prazer, as suas vítimas. Depois é montado ao pormenor o cerco. Controla-se o telemóvel mesmo recorrendo à força para conhecer os contactos das vítimas. O intuito é saber para quem ou de quem se recebem telefonemas. Uma verdadeira esquizofrenia invade os hábitos dos agressores. Que assumem momentos de agressão física desde estalos a pontapés.
As vítimas são seguidas na rua ou no emprego para ver com quem se encontram, para afastar contactos com amigas ou amigos. E até conhecidos.
É que o agressor tem ciúmes das relações de amizade das vítimas e sente-se obcecado por isso. Daí o ar pidesco que toma para entrar em todas as áreas da vida das vítimas. Torna-se colérico e possessivo, não permitindo às vítimas que mantenham contactos normais exteriores.
Com todas estas atitudes, os agressores procuram também diminuir a auto-estima das vítimas e instalar medo. Para as vítimas perderem a coragem de cortar a relação.
As vítimas não se podem deixar vencer pelo medo. A violência doméstica é crime desde 2000 em Portugal. Basta apresentar queixa à Polícia e a pena pode ir até cinco anos de prisão.
A coragem de Margarida Marante em denunciar o seu caso às autoridades é um bom exemplo para que as mulheres vítimas da violência doméstica não tenham medo de proceder de igual forma.
Assim se começa a resolver este drama nacional. Em conjugação com uma adequada política da família.