José Geraldes

Crise da educação, crise dos valores


É inegável que há uma crise da educação e uma crise dos valores. Observa-se com razão e profusamente que a escola não encontra o rumo certo. Os pais, demasiado ocupados com o seu trabalho e as exigências profissionais, não encontram o tempo necessário para os filhos e entregam-nos ao cuidado da escola.
O vazio ideológico e ético leva a uma individualização cada vez mais crescente. A perda de estabilidade, de certezas tradicionais em relação a saberes, convicções e normas de orientação acentua-se a olhos vistos.
Regista-se uma nova maneira de integração social. A noção de família como célula-base da sociedade é posta em causa. O indivíduo vê-se dependente do mercado de trabalho, dos média, do mercado de consumo.
A televisão torna-se força de controlo. E o que diz a televisão tende a ser pensamento dominante.
A permissividade dos costumes aumenta sem se dar conta. O que importa é o sucesso pessoal e o êxito na carreira profissional alcançado por qualquer meio. Tudo se subordina ao interesse do momento. O hedonismo impera sob as formas mais diversas.
Que fazer da crise da educação? Tantas reformas já foram levadas a cabo e as coisas não melhoraram. E é conhecido o velho aforisma de que quando há um ministro novo no ministério da tutela termos uma nova reforma. Que muitas vezes só piora o que estava em funcionamento.
Uma linha mestra na educação deve levar os jovens a adquirir princípios éticos universais. Que não podem ser questionados para uma formação integral.
Esta formação leva à autonomia, para que o jovem saiba conduzir-se com espírito crítico para destruir influências malsãs. A educação para a capacidade de se relacionar com os outros é pedra base. E igualmente o fomentar o interesse e atenção na prática quotidiana.
Como contrariar a crise de valores? A ética também responde a esta questão. Com as normas e comportamentos que todo o ser humano deve ter. E inculcando valores perenes nos jovens. Começando por lhes dar um ideal que mobilize para a vida. Dar-lhes fé e confiança no futuro. Levá-los a assumir os problemas de cada dia. Fazer-lhes ver que é melhor pensar mais no positivo e no bom para não remoer os fracassos. E convencê-los a dedicarem-se aos problemas dos outros.
O problema Deus não pode estar ausente. François Furet, escritor insuspeito, autor do célebre livro, O Passado de uma Ilusão , escreve: “Privado de Deus, o indivíduo democrático vê tremer as suas bases neste fim de século, a divindade histórica, angústia que vai ter de esconjurar”.
As crises podem ser ocasião de crescimento. E também de desafios.
Num romance intitulado, No Meio do Nosso Caminho , recentemente publicado, Clara Pinto Correia escreve uma série de anotações que, sendo uma auto-crítica, abrem pistas para tentar vencer as crises da educação e dos valores.
Eis o texto: “Os nossos pais fizeram um trabalho muito melhor que o nosso. Nós podíamos contestar os valores que nos ensinavam mas ao menos ensinavam-nos valores. Essas coisas ficaram connosco para sempre, fizeram de nós quem somos, foi ou não foi? Nós agora deixámos de ter valores para ensinar aos nossos filhos. O que é que a gente lhes ensina? O que é que nós ainda lhes dizemos que é sagrado? O que é que nós ainda lhes impomos como limites? Que modelos é que lhes damos de modéstia, de honestidade e de, olha, pronto, de compaixão que é uma palavra que já nem deve vir no dicionário?”.
Perguntas que não podemos deixar sem resposta.