António Fidalgo

Liberdade de expressão e respeito


As reacções violentas do mundo islâmico contra as 12 caricaturas dinamarquesas trouxeram de novo a lume a relação tensa entre a liberdade de expressão e o respeito pela honra e pelos valores dos outros. Não entrando nos factores complexos deste episódio, nomeadamente culturais, religiosos, económicos e sobretudo políticos deste episódio concreto, e à luz dos quais as caricaturas funcionam quiçá mais como um pretexto do que uma causa verdadeira, o tema em si merece nova reflexão numa sociedade globalizada, diversa, com civilizações em conflito.

O que se publica hoje numa recôndita parte do mundo, numa pequena urbe de um pequeno país como a Dinamarca, passa, em rapidez estonteante fronteiras, geográficas, linguísticas e culturais. O que é local pode ver-se catapultado subitamente para a ribalta dos média mundiais e provocar reacções de dimensão absolutamente desproporcionada. Isso é tanto mais verdade quando ocorre na Internet, onde tudo é acessível de todo o lado. As caricaturas encontram-se neste momento à distância de uma pesquisa num motor de busca na Internet.

A liberdade de expressão é um dos princípios fundamentais da civilização ocidental. É um bem e um fim em si mesma e como tal inegociável. Mas a liberdade de expressão tem os seus limites a dois níveis, dos factos e dos valores. No primeiro caso significa que a liberdade de expressão não pode abrigar a mentira ou a infâmia. No segundo caso, tem de respeitar os outros, de não os inferiorizar ou denegrir. É evidente que é da natureza das caricaturas levar ao limite a liberdade de expressão, de fazer humor e até de provocar e picar. E aqui não se pode entender o respeito pelos outros num sentido restrito. Que alguém se sinta ofendido por uma caricatura não significa eo ipso que tenha havido uma falta de respeito ou ofensa. Entre crítica, ofensa, brincadeira, relato de mau gosto, há por vezes ténues fronteiras que só um discernimento maduro pode descortinar.

O Urbi@Orbi cumpre seis anos de vida online. Tem procurado relatar com verdade e objectividade o que se passa na UBI e tem proporcionado aos alunos de Comunicação exercerem em ambiente real a tarefa, cheia de responsabilidade, de se exprimirem livremente. Não é pouco.