Por Catarina Rodrigues e Eduardo Alves




Urbi @ Orbi - Quais os motivos que o levaram a avançar com uma candidatura à direcção da AAUBI?
Bruno Carneiro – Comecei neste projecto, com o apoio de colegas e amigos e depois, por uma virtude ou defeito meu, quando começo as coisas levo-as até ao fim e aqui estou. Era necessária uma continuidade da comissão de gestão e a partir daí nasceu a Lista S, com bastantes elementos desse grupo e outros novos. Ainda neste período transitório e no seio da própria comissão foram apontados vários nomes para encabeçar uma candidatura à presidência da associação. No final acabou por se escolher o meu.

U@O - Existiu apenas uma lista a candidatar-se. Como vê este desinteresse dos estudantes pelas lides associativas e directivas?
B. C. – Cada vez mais os alunos sentem as pressões dos pais e de outros agentes no sentido de entrar na Universidade, estudar, concluir o curso nos anos devidos e não dar muita importância a actividades extra-curriculares. Por outro lado, o mercado de trabalho, as empresas, apreciam muito os estudantes que, durante o seu período lectivo estiveram ligados a acções associativas e outras. Isso é visto como uma mais valia. Este juízo não é feito no sentido de desvalorizar quem opta por vir para a Universidade apenas para tirar o seu curso e mais nada. Mas, de facto, quem vem para o associativismo ganha aptidões na organização de eventos, na comunicação com os outros e em variados aspectos que vão ser úteis no futuro.
No caso da actual equipa que está na associação académica, temos exemplos muito interessantes. Dois colegas que estão a trabalhar connosco, em que um deles entra nestas coisas pela primeira vez e outro já foi presidente de um núcleo do seu curso. Estes dois elementos têm métodos de trabalho bastante diferentes, com um deles a ser mais fechado e o outro muito mais comunicativo. E é isso que por vezes faz a diferença nas empresas, a facilidade de comunicação. Isto só com uma simples licenciatura é difícil de obter. Por isso mesmo, as lides associativas também podem ser muito salutares. A associação académica é sempre um complemento ao próprio currículo dos alunos.

U@O - Mas o futuro da AAUBI nunca foi posto em causa?
B. R. – Pode continuar a existir uma só lista candidata e até como em 2003, esperar-se por uma segunda volta, mas as pessoas acabam sempre por aparecer. Quando se pensa avançar com uma lista para a associação, há sempre a tentativa de conhecer quem vai avançar primeiro, o que pode atrasar o início de alguns projectos, mas acabam por aparecer sempre listas.

U@O - Houve também um número muito reduzido de votantes. Porque é que isso acontece?
B. R. – Como só tem aparecido uma lista, a maior parte das pessoas acaba por interrogar-se sobre o significado do seu voto. Com apenas uma equipa a concorrer à associação para quê ir votar quando se sabe, à partida, que o candidato está eleito! Não considero que isso seja correcto. As pessoas, com este cenário, continuam a ter outra forma de mostrarem a sua posição, com os votos brancos e nulos.





"O rigor financeiro vai ser uma das linhas mestras desta direcção"

U@O - De que forma se pode chamar a atenção dos alunos para as questões que lhes dizem respeito?
B. R. – A associação tem vindo, cada vez mais, a tentar ligar-se aos alunos. Nos últimos tempos, de uma forma menos directa, através dos núcleos. Há tentativas falhadas, outras que resultam. Vamos tentar promover actividades conjuntas entre a AAUBI e os núcleos de estudantes. Todas as iniciativas que estes organismos apresentarem à associação vão ser apoiadas. Essa ajuda pode não passar apenas pela área financeira, mas também pelo apoio logístico e de transporte, entre outros. O que contamos é com uma contrapartida para a associação. Não no sentido de angariar dinheiro, mas o que queremos é um apoio efectivo nas nossas actividades, aquelas que marcam a vida da academia.

U@O - O referendo que se realizou no dia 19 foi uma tentativa de “despertar” os estudantes?
B. R. – Este referendo serviu para frisar a posição da associação académica relativamente aos critérios de avaliação praticados na UBI. Confirmou que a associação está a defender os interesses dos alunos e não apenas de meia dúzia de pessoas.
Esperava que a participação fosse maior. Com 2 mil e 500 votantes, metade dos alunos, a posição seria expressiva. Assim fica um pouco aquém das nossas expectativas.

U@O - Foi uma das primeiras medidas tomadas no início de mandato. Poderá vir a repetir-se, esta consulta aos alunos?
B. R. – É uma questão a ter em conta. Obviamente que as futuras consultas às opiniões dos alunos têm de passar por uma outra forma que não implique tantos custos em termos humanos e financeiros para a associação. Cada vez que temos de fazer um referendo têm de se imprimir 5 mil boletins de voto, encontrar pessoas que tenham disponibilidade para estar todo o dia nas mesas e outros pormenores que tornam este formato pouco útil. No futuro vamos começar por utilizar a nossa página on-line, tal como a Universidade faz com os questionários. Desta forma conseguimos vantagens em todos os sentidos e inclusivamente os próprios alunos podem responder ao referendo em suas casas, com calma e tranquilidade.

U@O - Algumas das medidas que pretende implementar passam por cursos de formação e pelo melhoramento da sala de informática, acções que vão decorrer na sede da AAUBI. Esta é uma forma de trazer de volta os estudantes à “Casa Azul”?
B. R. – Cada vez que vamos falar com a reitoria para um financiamento para a casa, está sempre qualquer coisa implícita devido ao facto de ser a Universidade que nos dá este espaço, onde existe um bar que pode ser explorado, e outras razões morais e com sentido que nos fazem pensar melhor. Dessa forma, aquilo que se pretende agora é revitalizar toda a sede. Isto passa não só pelo bar, como também pela papelaria, e até pela própria sala de ensaios onde vamos tentar fazer qualquer coisa de cativante para as pessoas virem cá.
A biblioteca está ocupada por três fotocopiadoras antigas. Vamos dar outra vida a esse espaço que pode contribuir sobremaneira para trazer os estudantes à sua sede.Neste aspecto também é nossa intenção remodelar a sala de informática.


"A associação académica é sempre um complemento ao próprio currículo dos alunos"

U@O - Quais os projectos que mais gostaria de ver concretizados durante o seu mandato?
B. R. – Gostaria de chegar ao fim do mandato e, ao fazer uma retrospectiva, concluir que o que foi feito correu bem. Vamos avançar com uma série de projecto cujos resultados só serão visíveis a longo prazo. Começar com coisas simples para que quando exista disponibilidade financeira para isso, se aposte em coisas de maior envergadura.

U@O - Quais têm sido os problemas mais apontados pelos alunos?
B. R. – Tem existido um afastamento gradual dos alunos para com a associação e desta para com os alunos, é um facto. Um dos pontos que se pode destacar mais pela negativa é o tão falado Gabinete de Apoio ao Aluno, que praticamente não tem existido.
Tudo isto vai ser relançado, de forma melhorada. A grande aposta para a ligação entre e AAUBI e os alunos vai ser o nosso site que já está quase todo operacional. Aí vamos poder criar oportunidades que vão desde a pergunta directa aos responsáveis pela área, à criação de fóruns de discussão sobre os mais variados temas e onde os alunos podem dialogar entre si, sem sequer saírem da biblioteca ou da Universidade ou do local onde costumam aceder à Internet.

U@O - A questão da avaliação (que tem já como pano de fundo o Processo de Bolonha) é complexa? Não haverá na academia uma falta de esclarecimento sobre o assunto?
B. R. – Há uma evidente falta de conhecimento, mas a associação não tem grande culpa nesse aspecto. Fazemos as assembleias-gerais, lançamos os comunicados e quando fazemos as tomadas de posse convidamos toda a gente para que fiquem esclarecidos sobre as linhas que vão ser seguidas, mas as pessoas não se mostram interessadas.
Há preocupação dos alunos, mas não há coragem nem a vontade de assumir algumas ideias.

U@O - Qual o ponto da situação no problema da Providência Cautelar que divide as opiniões entre a UBI e a AAUBI?
B. R. – A providência foi sentenciada a nosso favor e intimava o Reitor a notificar todos os docentes no sentido destes cumprirem as Regras Gerais de Avaliação e assim se procedeu. O Reitor cumpriu a sentença, uma vez que notificou todos os professores, nós também estamos a entregar uma cópia da sentença a todos os professores e esta também já está disponível na nossa página on-line. Isto porque, os professores que não cumprirem a sentença, obviamente estão a incorrer num crime de desobediência qualificada. É claro que não nos é possível estarmos presentes em todos os exames e daí estarmos a pedir a todos os alunos para exporem os seus casos, fazendo queixa dos professores que não os autorizaram a ir a exame, junto da associação académica.

U@O - Mas então, quer o Reitor, quer a associação ficam satisfeitos com o resultado da providência cautelar?
B. R. – A complicação gerada em torno desta questão tem origem no facto de ser o despacho do Reitor o documento que continua vigente. Mas depois, o Reitor dá certos poderes aos docentes que eles não têm. A associação nunca foi contra os alunos que vão às aulas, nem contra a existência de notas mínimas nas frequências. O nosso grande problema coloca-se na ponderação da nota mínima para exame. A política que estava instituída dava lugar a posições descabidas. Veja-se o exemplo de um aluno que acabe aqui o seu curso com nota 12 na frequência, pode apenas ficar com dez em exame, enquanto que um aluno em qualquer outro sítio vá a exame com 12, a nota mínima com que fica é sempre essa.




"As dívidas actuais ascendem aos 50 mil euros"

U@O - A área financeira foi a principal preocupação da Comissão de Gestão liderada por Paulo Ferrinho. Pretende seguir a mesma linha?
B. R. – O rigor financeiro vai ser uma das linhas mestras desta direcção. Vamos acabar com os desperdícios. A divulgação de todas as actividades deve estar baseada nos meios informáticos. Vamos tentar poupar ao máximo em tudo o que for possível.
Neste momento estamos já a fazer uma grande limpeza à sede, vamos remover todo o material que não é necessário e juntar tudo para reciclar. Fizemos já contactos com algumas empresas do ramo para reciclar as velhas fotocopiadoras e todo o material electrónico que possa ser reutilizado. Como essa empresa faz recolha e reciclagem de todos os materiais eléctricos e outros, como monitores, teclados, ratos e cabos velhos, para além de todos os componentes associados à electrónica, estamos a pensar em fazer campanhas de recolha desse tipo de matérias que depois de vendido a essa empresa vai permitir algum encaixe financeiro à AAUBI.
Todas as actividades vão ter de ser orçamentadas de início, de forma a sabermos qual a viabilidade financeira para a realização de um determinado evento. Se antes as actividades como a Recepção ao Caloiro e outras dessem prejuízo, a política era a de passar à actividade seguinte tendo em vista o lucro para tapar o buraco feito pela primeira iniciativa. Agora isso mudou. Se a Semana Académica, por exemplo, acabar com um saldo negativo de 5 mil euros e a Recepção ao Caloiro com um positivo de 15 mil euros, no final há lucro, mas a primeira actividade vai ter de ser repensada, uma vez que o seu resultado foi prejudicial.

U@O - Neste momento, qual o valor das dívidas da AAUBI?
B. R. – Antes da comissão de gestão ter entrado em funções, as dívidas da associação ascendiam a 110 mil euros. De facto, foi liquidado cerca de 70 por cento desse montante ficando por saldar cerca de 32 mil euros.
Em relação às dívidas que apareceram durante a comissão de gestão, de facto, as coisas estão equilibradas. Isto é, há cerca de 23 mil euros para pagar, mas também há 24 mil e 500 euros para receber. Estas receitas vão entrar na instituição de forma gradual. Temos o caso de uma entidade bancária que patrocinou os cartões de sócio que vai fazer o seu pagamento à AAUBI durante os próximos três anos.
As dívidas actuais ascendem aos 50 mil euros. Para além de que as previsões, a curto prazo, de entrada de verbas, são muito reduzidas. Neste momento estamos a negociar com o Reitor a vinda de uma parte do subsídio da UBI. Os encargos mensais da AAUBI, com a sede, funcionários e actividades diversas são elevados. A tudo isto acresce ainda as despesas negociadas, as mensalidades de dívida anteriores. Vamos pagar até Março ou Abril uma mensalidade que ronda os 700 euros, só de uma das dívidas e daí até Dezembro cerca de 400 euros mensais de uma outra dívida. Estas pertencentes a um só credor, porque depois há outros. E também as actividades permanentes da associação.

U@O - É conhecida a dificuldade da Associação em manter determinadas actividades desportivas. Qual o ponto da situação?
B. R. - A associação vai fazer os possíveis e os impossíveis para conseguir financiar todas as actividades da secção desportiva. Decidimos também, já na primeira reunião de trabalho deste executivo, que no começo do próximo ano lectivo vai ser feito um orçamento para toda a secção desportiva. A direcção da AAUBI, se tiver capacidade, assegura metade desse orçamento, o restante vai ter de ser conseguido pelos atletas, treinadores e outros. Eles vão ter de trabalhar para arranjar dinheiro porque, infelizmente, ainda há atletas que, segundo informação que me chega, estão no desporto universitário apenas para terem acesso à época especial de exames. Anualmente, fazem gastar rios de dinheiro à associação, para eles terem uma época especial de exames. Isso para nós é incomportável.

U@O - Falou também na continuidade e melhoramento das actividades mais emblemáticas da associação como a Semana Académica, a Recepção ao Caloiro e agora o Radicool. De que forma isso vai ser feito?
B. R. – Todos esses projectos estão já a ser estudados e pensamos encontrar as opções mais viáveis para os mesmos. Há a possibilidade de fazer a Semana Académica em outro sítio que não a Covilhã, ou assinalar esta festividade com menos concertos, com menos dias, enfim. Neste momento temos todos os projectos já elaborados e vamos agora procurar apoios e financiamentos juntos de entidades e empresas.
O Radicool também vai ver a sua data de realização alterada e outros pormenores de logística mais pensados.
Quanto à Recepção ao Caloiro, vamos continuar com a angariação de 50 cêntimos por bilhete vendido para uma instituição de solidariedade da Covilhã, que no próximo ano será a Casa do Menino Jesus. Temos dois projectos, um deles aponta para a recepção dita tradicional, onde apenas estão bandas portuguesas e o outro para uma solução com bandas estrangeiras. A decisão final será tomada assim que reunirmos todos os apoios necessários.






Perfil



Bruno Bastos Carneiro nasceu há 25 anos na cidade brasileira de Belém do Pará. Filho de pai brasileiro e mãe portuguesa acaba por vir com seis anos para Portugal. Desde essa altura que vive em Albergaria-a-Velha. Também desde esses tempos de infância que pensa “em ser engenheiro civil”. Um sonho que ficou mais perto da realidade ao ingressar há sete anos na UBI. A instituição covilhanense e o curso de Engenharia Civil “foram sempre primeira opção”, refere o novo presidente da Associação Académica da Universidade da Beira Interior.
É o mais novo de três irmãos que contam já com alguma tradição na UBI. “A minha irmã licenciou-se em Ciências da Comunicação, aqui na Covilhã, o meu irmão estuda Ciências do Desporto, também na UBI e eu acabei por vir também para aqui”, explica o jovem dirigente associativo. Apaixonado confesso pela praia, encontrou na cidade serrana “um bom espaço para se viver, só falta mesmo o mar”, diz.
O dia 16 de Janeiro de 2006 não vai ser esquecido tão depressa por Bruno Carneiro. A data assinala a sua tomada de posse como presidente da Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI). Mas o futuro engenheiro não é estreante nestas andanças de academias e associativismo. Começou como tesoureiro no mandato de Luís Franco, entre 2003 e 2004, passou depois por ser um dos nomes fortes da comissão de gestão que assegurou o funcionamento da academia nos últimos seis meses. Foi no seio desse grupo que acaba por encontrar o apoio “para uma continuidade das políticas que estão a transformar a “Casa Azul”.
Com o gosto pela engenharia começou já a delinear duas grandes obras, “uma a longo prazo”, que passa pela revitalização da sede, “por trazer, de novo, os estudantes a um espaço que é deles”, e a outra, mais prática e imediata tem a ver “com a remodelação do Bar e da Esplanada da Academia”. Uma estrutura, dentro da “Casa Azul” que o novo presidente classifica de “pouco funcional”. Obras à parte, o maior objectivo de Carneiro é agora “terminar o mandato da melhor forma possível”.
“Nos poucos tempos livres que tenho, quando não estou a trabalhar em algum projecto para a associação gosto de conduzir e conviver com os amigos”, avança ainda Bruno Carneiro
.