Estabelecimentos escolares
Adeus, escola da minha terra

Atalaia do Teixoso e Terlamonte são as duas anexas do concelho cujas escolas primárias vão deixar de funcionar no final do ano lectivo 2005/2006. Os habitantes estão descontentes e não se conformam com a decisão do Governo, alegando que a Administração Central só está a contribuir para a desertificação do Interior.


Filipa Minhós
NC / Urbi et Orbi

Na escola da Atalaia só estudam três crianças

Os três alunos que frequentam actualmente a Escola do Primeiro Ciclo da Atalaia, anexa do Teixoso, vão ter de, já para o próximo ano lectivo, levantar-se mais cedo para apanhar o autocarro ou boleia com os pais para terem aulas na Escola Primária do Teixoso. É que o estabelecimento escolar da Atalaia, tal como tantos outros na Beira Interior, vai fechar no final do presente ano lectivo, por ter menos de 10 alunos a quem ensinar. Uma medida do Governo que está a deixar de ânimos exaltados a população da aldeia, que não se farta de criticar o encerramento de uma escola que tanto suor viu derramado para ser construída e que se encontra totalmente renovada desde 1998.
A Escola Primária da Atalaia nasceu em 1962. “Ainda me lembro do cortejo que fizemos a pé até ao Teixoso, no início da década de 60, no sentido de reivindicar a construção de uma escola”, recorda Fernanda Pais, proprietária do Café Casteleiro, um dos poucos que se consegue encontrar por aquelas bandas. “Naquela altura, existiam cá muitas crianças”, pelo que a necessidade de construir um estabelecimento escolar foi mais premente e o edifício acabou mesmo por erguer-se. Desde então, a escola tornou-se “a coisa de maior valor que a Atalaia possui”, frisa Fernanda, lamentando o facto de o imóvel poder vir a reduzir-se apenas a uma sala com mesa eleitoral. “A população está indignada e já se diz por aí que ninguém há-de lá ir votar”, avisa.
Também Luís Pais, padeiro da localidade e deputado da Assembleia Municipal, não encontra justificação para que a escola primária da sua terra seja encerrada. “O PS criticava a fraca aposta na educação desenvolvida pelo PSD quando estava no poder. Agora, é o Partido Socialista que governa, mas a política seguida continua ser a mesma”. E acusa os deputados de “seguirem os ideais do seu partido em vez de defenderem os interesses das populações que os elegeram”. Luís Pais não acredita que a educação do País esteja tão mal, para que sejam necessários cortes na área. “Não será o ordenado de meia dúzia de professores que estão a leccionar para poucos alunos que irá contribuir para a falência do Estado”, acredita, lançando ainda um desafio: “Porque é que o Governo não faz cortes nos seus próprios ordenados?”.
O deputado distrital lembra como a escola foi totalmente renovada em 1998 e como, agora, todo esse trabalho de recuperação “foi em vão”. “Qual é o nível de aproveitamento daqueles imóveis assim que a escola fechar? Andei eu a recolher assinaturas de todos os encarregados de educação para entregar no Ministério para nada”, lamenta. “Depois de todo o trabalho em contribuir para o franco desenvolvimento da Atalaia, principalmente no sector do urbanismo, esta zona está agora condenada à desertificação”, conclui, acrescentando que “para o ano lá terei que ir pôr a minha filha à Escola Primária do Teixoso”.

“Daqui a um ou dois anos a Escola ia voltar a ter muitos alunos”

O caso do fecho da Escola da Atalaia ganha contornos ainda mais “acesos” quando se fala na questão da falta de crianças na povoação. “O problema é que houve cinco ou seis miúdos da Atalaia que foram estudar para a Escola Primária do Teixoso. Se temos cá escola, porque é que os pais hão-de mandar os filhos para a outra? Assim, é óbvio que não temos crianças suficientes”, indigna-se Cremilde Neves, mais uma habitante descontente da pequena anexa. “Devia ser proibido levarem as crianças estudar para fora da terra”, continua, em tom revoltado.
Segundo a população, a medida de encerramento da escola é precipitada, uma vez que “não se elaborou um estudo sequer, nem foram dadas as devidas explicações aos encarregados de educação”, salienta Luís Pais. Além disso, estão muitas crianças para entrar no prazo máximo de dois anos. “Daqui a um ano ou dois, a Escola voltava a ter muitos alunos”, conclui Cremilde Neves.
No concelho da Covilhã, para além da Escola da Atalaia, também a Escola Primária de Terlamonte está condenada ao mesmo destino. O estabelecimento escolar, que ensina quatro crianças que frequentam o primeiro ciclo do ensino básico, vai igualmente ser encerrado no final do ano lectivo 2005/2006. Depois de percorrer os fracos acessos de Terlamonte, constituídos por estradas sinuosas, o NC encontrou, num meio maioritariamente rural, um homem que trabalhava no campo. Para João Bizarro, habitante da aldeia, que viu o seu irmão com mais de 40 anos frequentar aquela escola, é uma “tristeza” que lhe esmorece o olhar. “Para mim, a Escola havia de continuar aberta”, diz, sem rodeios.
Recorde-se que no caso da Covilhã, a Direcção Regional de Educação do Centro (DREC) propôs inicialmente à Câmara o encerramento das escolas da Atalaia, com apenas três alunos, Terlamonte, com quatro, Sobral de São Miguel e Aldeia do Souto, ambas com sete alunos, e Bouça, que é frequentada por oito alunos. Na altura, a proposta recebeu duras críticas por parte do então vereador da Educação, Joaquim Matias, na reunião camarária do passado dia 16 de Dezembro de 2005. Negociações feitas, ficou apenas fixado o encerramento de duas escolas: Atalaia e Terlamonte.
Ao todo, no distrito de Castelo Branco, são 41 estabelecimentos de ensino do primeiro ciclo do ensino básico que vão encerrar portas no final do ano lectivo.