António Fidalgo
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Meios, imediatos e intermediários
A contradição e a redundância no título são propositadas. A campanha presidencial em curso torna patente essas duas faces, opostas, dos meios de comunicação.
Os meios de comunicação são imediatos pois possibilitam e proporcionam uma comunicação directa entre as personalidades políticas e o povo. As mensagens são directas, imediatas, passam sobre as estruturas partidárias, sobre os representantes dos candidatos nas múltiplas localidades, para chegarem aos seus destinatários. É verdade que nas campanhas de rua, no circo de arruadas, visitas a feiras, almoços e jantares, se procura arranjar um auditório, bem composto, a quem o candidato se possa dirigir no local. Mas isso é apenas um entorno cénico, porque não é esse auditório concreto de dezenas, centenas ou até mesmo alguns milhares de pessoas, o verdadeiro destinatário do discurso ou da mensagem do candidato. O alvo real são as audiências dos meios de comunicação, as centenas de milhares e de milhões de eleitores, que ouvem o candidato, que o vêem directamente. O candidato Manuel Alegre é um exemplo desse imediatismo dos meios de comunicação. Concorre sem o apoio de qualquer partido político, mas graças à rádio e à televisão chega à mente e ao coração de muitos eleitores. Não houvesse esse imediatismo e não teria quaisquer hipóteses de se fazer ouvir. É por isso que hoje vale mais um candidato que passe nos meios de comunicação do que a melhor máquina partidária sem uma figura de proa, apta a adequar-se e a aproveitar-se do imediatismo dos meios de comunicação.
Por outro lado, esses meios são intermediários. Mostrar ou não mostrar um candidato, de que ângulo, sob que perspectiva, quais os momentos seleccionados, são exemplos de que os meios são verdadeiros intermediários da comunicação política (e não só política!). Tal como as cadeias de distribuição no comércio detêm hoje o poder na venda e no sucesso de qualquer produto, desde um livro a um detergente, assim também os meios de comunicação ao mostrarem ou não mostrarem um candidato (e isto é o mais importante, já que ser completamente ignorado é o pior que pode suceder a quem pretende atrair a atenção das pessoas – segundo o mote de que o importante é ser referido, nem que seja para dizer bem!), também os meios de comunicação têm um poder determinante na visibilidade de um político, de qualquer tipo de pessoa dedicada à causa pública, e na forma como aparece.
Sabemos como as grandes superfícies comerciais determinam o comércio. Não é a qualidade do produto o mais importante, mas a sua distribuição e comercialização. O mesmo acontece na política e na cultura, não é o seu conteúdo que determina o seu sucesso, mas a sua apresentação e adequação às audiências.
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