Anabela Gradim
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Armados até
aos dentes
São já quatro os
agentes da Polícia de Segurança Pública
mortos em Portugal desde o início do presente ano.
Sérgio Martins, de 49 anos, foi o último
graduado da PSP a perder a vida em serviço, na
madrugada do último domingo. A trágica lista
completa-se com os agentes Ireneu Dinis, assassinado em
Fevereiro; e António Abrantes e Paulo Alves, assassinados
em Março.
Estão a banalizar-se os crimes com armas de fogo,
mesmo por motivos fúteis, como as mortes produzidas
durante rixas de trânsito, e ainda esta semana um
jovem foi baleado na sequência de um desacato desse
tipo. Situações que há 10 ou 20 anos
se resolviam com dois insultos, ou mesmo um «vias
de facto» sem gravidade, são hoje oportunidade
para homicídios – um dos crimes mais graves
que se podem perpetrar.
A equação é mesmo, mesmo simples:
quanto mais armas de fogo em circulação,
mais acidentes e mais homicídios. Quanto mais armas
de fogo em circulação, mais a violência
e o crime suscitam a possibilidade de algo acabar muito
mal.
A solução é também evidentemente
simples e de clareza meridiana: é preciso investir
no controlo da proliferação de armas. Em
Portugal, felizmente, o enquadramento legal de venda de
armas ao público é muito mais sensato do
que em países como os Estados Unidos; e a sua disseminação
muito mais restrita do que em países como o Brasil.
Mesmo assim, permanece no cidadão comum a desconfortável
sensação de que há cada vez mais
gente armada; e que a alguns dos que assim andam qualquer
tribunal ou junta médica recusaria habilitação
para emprego de uma fisga. Em muitos casos não
se trata só da arma e da posse da arma; mas de
arma + carreira criminosa, arma + iliteracia, arma + alterações
mentais, arma + abuso de álcool ou estupefacientes,
etc, etc.
Entre armas roubadas, traficadas ou alteradas, parece
que estas se reproduzem e multiplicam, e que consequentemente
há cada vez mais pessoas armadas.
Isto torna recomendável, senão mesmo urgente,
uma política de controle da proliferação
de armas ilegais: procurando-as onde se julga poderem
estar, e agravando a moldura penal da sua posse, alteração
ou tráfico. Matai-vos uns aos outros não
é um bom lema de vida. E nisto que já foi
um País muito seguro, agora até uma pega
nuns semáforos pode acabar mal.
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