Despertar para a Ciência
O medo da clonagem

“Intuitivamente sentimos de forma imediata que, estaríamos a violar qualquer coisa que respeitamos muito”, este seria um dos preconceitos. Alexandre Quintanilha, investigador, geneticista e professor, falou na terceira conferência “Despertar para a Ciência”, de alguns contra argumentos da clonagem.


Por Amélia Costa

Nesta iniciativa foi a vez de se abordar a temática da clonagem

O consumo de energia, o estado do ambiente, a importância da probabilidade e da estatística, foram temas já discutidos no 2º Ciclo de Conferências “Despertar para a Ciência”. A clonagem foi o novo tema abordado na conferência “Manipulação genética: medos e esperanças”, ocorrida no anfiteatro 6.1, no passado dia 7 de Dezembro.
Alexandre Quintanilha, docente do Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto, iniciou a sua apresentação, fazendo referência ao impacto que a Engenharia Genética e a Biologia Molecular teriam nas plantas, nos animais e nos humanos. As plantas passariam a estar mais resistentes a vírus, insectos e herbicidas, teriam maior valor nutritivo e também nelas, seria possível a clonagem.
Nos animais, por exemplo, seria possível a produção de órgãos que, fossem compatíveis nos humanos, embora existisse o risco de transmissão de vírus típicos de animais.
Alexandre Quintanilha centrou o seu discurso, no impacto destas ciências nos humanos, nomeadamente em relação à clonagem terapêutica e reprodutiva.
Segundo ele, a clonagem terapêutica poderia trazer vantagens ao nível de reparações de tecidos. No entanto, demonstrou ser contra a clonagem reprodutiva, não por razões éticas mas, por questões técnicas. Neste sentido, falou de alguns medos que envolvem aquela matéria.
A crença na possibilidade de criação de exércitos de clones, não teria sentido. “A reprodução humana funciona em 90 por cento da população, e parece que até dá prazer”, acrescentou. Para Alexandre Quintanilha, não há assim uma necessidade tão grande para por em prática a clonagem reprodutiva, até porque existe ainda, alternativas como a reprodução assistida e a adopção.
A possibilidade de ser algo contra a natureza e a ideia do direito à identidade, também não favoreceu este tipo de clonagem. “ As pessoas acham que, basta ter o mesmo ADN para que, possa existir uma pessoa idêntica e com a mesma personalidade, o que é algo errado”, disse o docente.
A diminuição da diversidade biológica, os interesses económicos e o papel da medicina, a questão da dignidade e a ideia dos homens virem a ser dispensáveis, são outras questões que, atormentam algumas pessoas e dificultam a clonagem.
No entanto, segundo o Professor Alexandre Quintanilha, os argumentos intuitivos são os que mais descriminam a questão da clonagem “O nariz moral, expressão de George Orwell, já errou muitas vezes, e basta relembrar as diferentes reacções, quando apareceram os primeiros transplantes”, referiu.
O ciclo de conferências “Despertar para a Ciência” irá terminar no dia 11 de Janeiro, com o tema “Tempo: do Big Bang às descobertas, o fuso horário à Internet” que terá lugar no anfiteatro 8.1, no pólo das Engenharias.