José Geraldes
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Natalidade, envelhecimento e família
Portugal atravessa
actualmente uma crise generalizada. Mas a crise parece
ser cíclica. Já o poeta João de Deus
escrevia metaforicamente num poema: “Fui a semana
passada / visitar o Hospital / e vi na enfermaria / o
pobre Portugal / perguntei-lhe o que sentia / - uma fraqueza
geral /. Também mais recentemente Ruy Belo deixou-nos
um outro poema na mesma linha de pensamento: “Tenho
uma dor chamada Portugal /país defunto talvez unto
para nações vivas / Portugal meu país
de desistentes /.
Sem querermos adensar o clima de pessimismo que se instalou
no País, os poetas citados dão-nos um retrato
de uma realidade irrecusável. Que importa modificar
para bem de todos nós.
Um dos aspectos a ter em conta diz respeito ao envelhecimento
da população, à baixa natalidade
e à situação da família. Se
bem que o envelhecimento e a baixa natalidade se verifiquem
em toda a Europa, em Portugal o facto assume contornos
dramáticos.
Nos anos 60, a esperança de vida dos homens rondava
os 61 anos e a das mulheres os 66 anos. Hoje, é
de 75 anos para os homens e de 81 para as mulheres.
A fecundidade desceu de forma assustadora. O limiar de
renovação de gerações que
é de 2,1 de filhos por mulher, desceu nos tempos
actuais para 1,4. Ou seja, na União Europeia, Portugal
é dos poucos países em que a taxa da natalidade
continua a baixar.
A não haver alterações nos comportamentos
dos portugueses, a substituição das gerações
afigura-se problemática. Assim, temos uma população
de mais de 65 anos que passou de 8 por cento do total
em 1960 para de 17 por cento em 2004. Prevê-se que
chegue aos 32 por cento em 2050.
Os portugueses invocam as condições de vida
para não terem mais filhos. Sobretudo as mulheres
por razões de carreira e de trabalho adiam a maternidade
para mais tarde. E o número de mães a arriscar
o primeiro filho depois dos 40 anos triplicou desde os
anos 80 do séc. XX.
Os estudos da OCDE (Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Económico) sobre o problema da
natalidade, dizem que a principal razão de haver
menos filhos prende-se com a conciliação
da vida familiar e profissional. Daí o ter enviado
recomendações a este respeito aos Estados-membros.
É que entre carreira e família, a maioria
das mulheres opta pela carreira. Trata-se de um dado revelador.
Em Portugal não há uma política da
família. Na Suécia considerado pela ONU
como “o melhor sítio do mundo para ter filhos”,
um dos pais pode ficar em casa por um ano com 80 por cento
do ordenado. No nosso país, a lei prevê a
possibilidade de um dos pais não trabalhar seis
a 24 meses mas a licença não é comparticipada.
O Conselho Nacional da Família foi extinto. Os
100 Compromissos para a Família do governo Durão
Barroso, com um calendário a cumprir até
2006, não se sabe por onde andam. Não existem
incentivos para a natalidade ao contrário da França.
O Estado favorece o divórcio, pois as pessoas casadas
pagam mais impostos. O casal separado ou divorciado pode
deduzir 7500 euros no IRS por filho/ano em despesas. E
falta a coragem de criar um verdadeiro abono de família
que não se reduza a uma esmola quase por favor.
Temos Portugal a envelhecer, a natalidade a baixar e a
família esquecida pelo Estado. “Uma fraqueza
geral” como dizia o poeta. Mas sem renovação
de gerações e sem uma política da
família – o que já nos valeu a censura
da OCDE- que futuro desejamos para o País? |