Mais de meio século de extracção mineira na zona da Panasqueira resultou numa grande pilha de britas e de lamas que até agora pareciam não ter solução. Mas o que para muitos não passa de um amontoado de pedras e de desperdícios, para outros ganha destaque na área dos sub-produtos e da reciclagem de materiais. Um grupo de docentes e investigadores do Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura da UBI aponta agora várias soluções para todos estes materiais.
João Paulo Castro Gomes, professor associado deste
Departamento, explica os vários projectos que estão
em curso e as finalidades dos mesmos. Para o docente "todo
o trabalho tem de ser entendido na perspectiva do grupo”.
Isto porque “existem várias investigações
complementares a decorrer, quer para o aproveitamento
das lamas, das britas e de outros sub-produtos”. Uma das
características que torna este conjunto de projectos
“algo inovadores” é o facto de estarem a ser dadas
“soluções viáveis a uma categoria
de britas grossas, de matérias que muita gente
julgava não terem mais utilização”.
Castro Gomes explica a importância das minas em todas estas investigações. O docente refere que “a proximidade geográfica desta estrutura é uma mais-valia para os vários projectos que estão a ser realizados poderem ser implementados na região”. Um dos estudos desenvolvidos no seio deste grupo conseguiu já encontrar uma fórmula de produção de pavimentos betuminosos “cinco a seis vezes mais baratos que o pavimento tradicionalmente empregue nas estradas nacionais”. Este piso utiliza as britas que são extraídas das minas “rochas com grande resistência e tão boas como as outras”. Uma solução que junta também a utilização de emulsões betuminosas. “A forma mais utilizada no asfaltamento de estradas recorre ao processo de massa asfáltica produzida a quente”, explica o docente. No caso apontado pela UBI, “as britas recuperadas dos desperdícios das minas são misturadas com determinado tipo de emulsões betuminosas”. Esta solução que a Universidade desenvolveu teve o apoio da petrolífera espanhola Cepsa. O pavimento asfáltico “produzido a frio” não é agressivo para o ambiente e é mais económico, “porque recupera os desperdícios das minas e não exige grande tecnologia”. Em comparação com o asfalto “quente”, a emulsão betuminosa “é muito mais barata”. Tendo em conta a localização das minas “o processo é viável para os municípios ou todas as empresas interessadas num raio de cem quilómetros”. “O transporte de materiais também conta para o preço final”, refere o responsável. Este tipo de pavimento “pode ser aplicado em vias de pouco tráfego, caminhos rurais e florestais”, constituindo assim “uma grande ajuda para os municípios da região”, adianta o docente. Castro Gomes refere mesmo que a UBI “tem já contactos estabelecidos com alguns municípios “para se começar aplicar este pavimento, em troços experimentais”.
Os projectos desenvolvidos na UBI pretendem reutilizar os sub-produtos das minas
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Valremin ganha apoio da Agência de Inovação
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Muitos dos materiais que saem da mina “em contacto com o ar, ganham uma cor ocre”. Este fenómeno está a ser considerado num novo material em estudo pelos investigadores da UBI. O projecto em causa conta também com o aval da Agência de Inovação e envolve uma empresa privada de pré-fabricados. Os materiais extraídos na Panasqueira apresentam-se sob a forma de rochas fragmentadas. Estes fragmentos “vão ganhar a tal cor ocre característica da região e de algumas rochas que são utilizadas nas construções antigas”. A inovação desta investigação reside no facto “de se pretender desenvolver um produto com valor estético que pode agora ser utilizado para dar forma a pré-fabricados que imitem as pedras antigas e outro tipo de revestimentos empregues na construção”. Todas estas inovações contam, para além da viabilidade técnica, “com a viabilidade económica”.
Valremin foi o nome dado ao projecto da UBI que visa a “valorização de resíduos das minas”. Nas palavras de Castro Gomes, “os projectos que estão agora em curso na UBI, para além de darem uma finalidade aos desperdícios inerentes à actividade mineira, têm também a vantagem de ser aplicados em qualquer mina”. No caso deste novo produto, pensado para pré-fabricados “abre todo um novo caminho à produção de revestimentos para a construção civil e também à aplicação deste novo material em diversas àreas da construção civil”. A UBI em consórcio com a Universidade do Minho e a Patrimart, uma empresa de Castelo Branco, estudam o material que poderá vir a ser comercializado.
Para além de todas estas aplicações pensadas para os desperdícios das minas, a UBI estuda também soluções para as lamas. Uma das recuperações pensadas para esses materiais “faz uso da técnica patenteada pelo francês Davidovits”, a qual transforma lamas alumino-silicatadas, como são as da Panasqueira “em geopolímeros”, ou seja, materiais com características semelhantes às dos cerâmicos que podem ser utilizados em vários campos da construção como pavimentos, ladrilhos, mosaicos e outros artefactos, adianta Castro Gomes.
O docente refere que este grupo de trabalho está a desenvolver outro tipo de projectos, para além destes, nomeadamente para a reabilitação térmica de paredes de alvenaria de pedra, inspecção de edifícios, entre outros. Quanto ao aproveitamento de resíduos de minas, para já, os contactos com os municípios da Cova da Beira estão a dar os primeiros passos, bem como, o contacto com algumas empresas privadas que “também estejam interessadas nestes projectos”. Castro Gomes refere que dentro em breve, as iniciativas podem passar do papel à prática. |