“A recuperação da utilização dos cães de gado é uma linha de acção muito prática para a conservação do lobo e uma medida muito eficaz para reduzir os conflitos, porque diminui os prejuízos que os lobos causam nos rebanhos”. A conclusão é de Sílvia Ribeiro, investigadora do “Grupo Lobo”, no âmbito do II Congresso Luso-Espanhol sobre o Lobo Ibérico, que decorreu em Castelo Branco, no passado 10 de Novembro.
“Uma década de utilização de cães de gado na conservação do lobo em Portugal” é o nome do projecto desenvolvido pela investigadora e que tem decorrido nas serras de Montemuro e Alvão (distritos de Viseu e Vila Real). Revela uma eficiência elevada e uma avaliação positiva do desempenho dos 106 cães, integrados desde 1997, por parte dos criadores de gado. “A eficácia é bastante elevada, cerca de 90 por cento, o que é bastante”, frisa Sílvia Ribeiro, em declarações à Agência Lusa .
Três raças de canídeos nacionais – Serra da Estrela, Castro Laboreiro e Rafeiro do Alentejo – integraram o início do projecto. Actualmente, no entanto, apenas duas raças estão em actividade, o Castro Laboreiro e o cão Serra da Estrela, “na variedade de pêlo curto, que é uma raça que está em extinção”, salienta a investigadora.
Sustentando que os cães se adaptam muito bem e que os casos de doença não são muito comuns, a responsável explicou que a mortalidade dos animais deriva de atropelamento e envenenamentos, muitas vezes dirigidos aos lobos, mas que acabam por vitimar os cães. A investigadora sublinha que houve apenas registo de dois cães mortos por lobos enquanto guardavam o rebanho.
Todavia, se no início, os pastores “eram bastante desconfiados” das intenções do “Grupo Lobo”, a relação de confiança foi-se estreitando com o tempo. “Não nos limitamos a entregar os cães, fazemos um acompanhamento regular, com o apoio veterinário, para assegurar que o nosso esforço vai ser válido no fim”, afirma a investigadora à Lusa . E acrescenta que “agora são os pastores que nos vêm pedir os cães. A única limitação é monetária, temos muito mais pedidos do que cães, actualmente”, lamenta.
Daniel Stahler, biólogo norte-americano, defende também que os lobos e os homens podem conviver, através de acções educativas e uma gestão correcta. O responsável pela introdução de lobos no parque nacional de Yellowstone, presente no Congresso, acredita que acções de comunicação de proximidade com as pessoas de “informação factual sobre aquilo que o lobo faz”, permite a vivência entre os lobos e o ser humano e torna possível o sucesso na recuperação dos ecossistemas naturais de um país. |