“Andava lenta, leve e desenvolta, sentava-se à frente do público e sorria”. Assim era a “rapariga”, a cantora, que na companhia do marido e do amante, passava dos cabarés às festas da aldeia. Esta “rapariga” veio à Covilhã, interpretada por Américo Silva e os seus companheiros, António Simão e Pedro Carraca.
É uma peça que retrata a vida de uma cantora de variedades que anda de noite em noite, de palco em palco, de terra em terra, em busca do sucesso, da fama, que foram ficando pelo caminho. Os três actores representam a vida efémera e oscilante de quem corre pelos palcos atrás de ilusões. E onde o que resta são apenas recordações, o anonimato completo e o grande amor pelo teatro.
O banco alto, objecto de consumo corrente, era o pedestal para a “rapariga”. Ela nunca hesitava em sorrir em todas as situações. Era uma rainha do faz de conta. As portas, as malas, os ensaios, as danças, o vestido, os adereços, a maquilhagem, tudo era importante. Mas onde estão os espectadores elegantes? O seu público já não era o mesmo, era “um buraco escuro” desinteressado. E ela também já não era a mesma, estava velha, gasta. “Ai, ai, ao que nós chegamos” repetia a “rapariga” frequentemente. Tinha chegado à decadência, ao fracasso, ao desinteresse do público.
O auditório esteve cheio. Segundo Paula Ambrósio, uma espectadora do Music Hall, “Esta peça está muito bem interpretada. Os actores representam lindamente a ascensão versus decadência no teatro”. João Garrido achou graça “à transformação do actor Américo Silva numa mulher tão robusta”. Por sua vez, Eduarda Cadeco, como espectadora e actriz comenta que “É uma história absolutamente interessante e real. O amor ao palco e ao teatro é perseguido pela efemeridade. Não há certezas de nada, a única certeza que temos é que amamos aquilo que fazemos. Quanto ao tempo, ninguém saberá…”
Esta peça insere-se no programa do Festival de Teatro da Covilhã, que decorre entre os dias 13 e 26 de Novembro, no Auditório do Teatro das Beiras. |