Mais de uma dezena de estabelecimentos escolares, só no concelho da Covilhã, corre risco de encerrar

Falta de alunos
Rui, Irina e Igor: os “últimos”
meninos da Escola da Atalaia

São 13 as antigas escolas primárias que correm o risco de fechar, por terem poucos alunos. Na Atalaia do Teixoso existe uma que tem apenas três alunos. A perspectiva de mudar de estabelecimento de ensino deixa as crianças simultaneamente “tristes e contentes”.

Ana Ribeiro Rodrigues
NC / Urbi et Orbi


Metade das escolas do primeiro ciclo do distrito poderão encerrar se o Governo concretizar a intenção de fechar os estabelecimentos com menos de 20 alunos. No concelho da Covilhã essa medida poderá vir a afectar 13 estabelecimentos, segundo o Sindicato dos Professores da Região Centro. Rui, Irina e Igor são as três crianças que frequentam a escola de Atalaia e poderão vir a ter de ser transferidas, como tantas outras. Uma situação que, se por um lado as deixa satisfeitas, por poderem conviver com mais gente, por outro as entristece. É que passam a estudar mais longe de casa, da família e gostam da actual escola, remodelada há cinco anos.
O edifício é tipicamente o de uma antiga escola primária, com duas salas de aula. Mas há muito que uma delas deixou de funcionar, porque o número de alunos, que diminui ano após ano, deixou de o justificar. As lições dos vários anos passaram então a ser dadas no mesmo espaço. “É difícil trabalhar nessas condições. Temos de saber gerir, porque os programas têm de ser dados. Enquanto ensinamos uns os outros fazem exercícios”, frisa a professora, Sara Saraiva, que lecciona há dez anos em Atalaia, anexa do Teixoso. No entanto, este ano a situação é menos complicada. Dois dos alunos estão no terceiro ano e outro no primeiro.
Trata-se de Rui, de oito anos, aluno com necessidades educativas especiais que foi transferido do Sarzedo. A escola era apenas frequentada por ele e a irmã. Há pouco mais de um ano, encerrou. Para a Atalaia vem no táxi pago pela autarquia, que o leva de regresso no final das aulas. Os dias são passados a aprender e entre brincadeiras, sempre os três.
A hora e meia do almoço é passada no refeitório, equipado com alguns jogos e uma televisão, na companhia de uma funcionária que traz a comida feita na escola do Teixoso em doses individuais. Embora haja quem traga o almoço de casa, porque a Câmara da Covilhã ainda não informou os pais do preço das refeições para este ano, explica a professora.

Faltam actividades extracurriculares

As aulas terminam às 15h30 e os alunos vão para casa. Este, no entender de Sara Saraiva, é um dos inconvenientes. “Embora tenham os avós por perto, não têm Ocupação de Tempos Livres”. A ausência de outras actividades é também sentida nas escolas de menor dimensão. Não há condições para o prolongamento de horário, não têm formação musical, como em outros estabelecimentos, nem são levados à piscina na altura do calor. Embora a escola já tenha a indicação que vão ter aulas de inglês, assim que for atribuída uma ao agrupamento.
“Mas têm outras vantagens. Com menos alunos, dedicamo-nos mais a cada um”, salienta a professora. E acrescenta que também não aceita “que os façam passar por incultos ou ignorantes por serem de um meio rural, porque não há nenhum assunto que não se discuta com eles”.
Sara Saraiva, com 30 anos de profissão, reconhece que as circunstâncias tornam a escola “monótona”. No entanto, recusa com veemência que se possa associar uma escola com poucos alunos ao insucesso escolar, como fez a ministra da Educação. “Posso aceitar muitas justificações para o encerramento da escola, que não sei se vai acontecer, porque não me disseram ainda nada, mas não o argumento do insucesso. Não encontro ligação entre uma coisa e outra”, salienta a professora.
A escola tem três computadores, utilizados apenas ocasionalmente. Se vai fechar, a docente não sabe, mas entende que o estabelecimento tem condições. Caso o encerramento seja uma inevitabilidade, preferia que isso acontecesse só depois dos dois alunos do terceiro ano completarem o primeiro ciclo.
Irina, de oito anos, ouve dizer em casa que se a escola onde os familiares também andaram deixar de funcionar, “seria uma injustiça”. Quanto a si, está dividida. “Ia ficar triste e contente. Porque ia ter mais amigos e aprender outras coisas”, diz, enquanto escreve no quadro de ardósia o nome da professora, ao lado da tabela com os números decimais. Igor, de sete, sentado numa das três carteiras ocupadas, também gostaria de ter mais colegas com quem brincar às apanhadas no intervalo. A parte má é sair de uma escola a que está habituado e de que gosta. Para a professora tratam-se de “miúdos como os outros, apenas com menos companhia”.