Gripe das Aves
Aviários da região esperam
por restrições passageiras


Maria Isabel Matias, proprietária de um aviário em Cortes do Meio, diz que esta é a época baixa do negócio e espera que as restrições não se prolonguem por muito tempo.

NC / Urbi et Orbi

A gripe das aves está a provocar quebras no comércio

Há 40 anos a trabalhar num aviário, Maria Isabel Matias, de 50 anos, mostra-se preocupada com a Gripe das Aves, mas diz que se trata de uma preocupação relativa. Isto porque, embora exista a possibilidade de uma epidemia lhe afectar o negócio, esse cenário parece-lhe distante e ainda não foi detectado qualquer caso no País. Mas os efeitos das medidas preventivas já se fizeram sentir, quando na última segunda-feira a entrada no mercado do Fundão lhe foi vedada.
Por ordem da Direcção Geral de Veterinária desde o último sábado que estão proibidos os mercados avícolas, assim como espectáculos, exposições e eventos culturais nos quais se utilizem aves, para se reduzir o risco de transmissão do vírus. Isto numa altura em que são já vários os países da Europa onde foram detectadas aves contagiadas.
Maria Isabel Matias tem um aviário em Cortes do Meio. Compra e vende aves ainda pequenas, para criação. E diz que nesta altura do ano “é normal as vendas baixarem muito, por causa do frio”. Época que aproveita para fazer limpezas de fundo e pintar as instalações. Por isso tem um número reduzido de animais e não tem noção de as notícias diárias sobre a Gripe das Aves lhe terem afectado as vendas. Mas a restrição imposta esta semana à venda em mercados deve começar a ter impacto, embora a uma escala mais reduzida que se fosse noutra altura do ano.
A empresária só tem neste momento cerca de centena e meia de aves, a maioria frangas poedeiras. Apesar de não poder ir às feiras, há clientes que a procuram no aviário, e por isso tem conseguido vender algumas. No entanto, o marido, Jorge, sublinha que acabam sempre por ter prejuízo, porque não podem escoar as aves e têm de as continuar a alimentar, o que comporta custos. E lamenta que as autoridades não tenham alertado para esta possibilidade com antecedência, para estarem prevenidos, como diz que aconteceu noutros países.

Foco na região custaria 95 mil euros

“Agora estamos parados, já não vamos comprar nada, até porque é época baixa. Mas se a partir de Janeiro esta situação continuar é um problema”, desabafa Jorge Matias. A esposa vai dizendo que as suas aves são mantidas sem contacto com o exterior e que os clientes não se mostram com receio. “Dizem que já foi o mesmo com as vacas loucas e se estivéssemos sempre a pensar nisso não se comia nada”, frisa.
Mas o assunto já há algum tempo que vinha a ser tema de conversa nos mercados entre empresários do ramo. Segundo Isabel, o receio é uma realidade. Sobretudo com o elevado número de postos de trabalho que poderá implicar. Não tanto aqui, onde o negócio não tem grande expressão, mas em zonas como Tondela ou Coimbra.
Aliás, o ministro da Agricultura disse que, se um foco fosse detectado na Beira Interior, os gastos com a recolha de todas as aves, incluindo as de capoeira, num raio de três quilómetros, rondariam os 95 mil euros. Já num local de maior concentração, como a Beira Litoral, esse valor poderia rondar os 17 milhões de euros e o abate de seis milhões de aves.
Jorge Matias entende que para já não há motivo para alarme e que a preocupação depende do tempo que estiverem em vigor as restrições. O facto de lidar diariamente com os animais, depois de tantos anos, também não o preocupa, “por enquanto”. Uma opinião partilhada pela esposa, que há 40 anos a lidar com este negócio de família, só se lembra da “epidemia da Doença de Newcastle, nos anos 70” , por lhe ter matado muitas aves.