Alice



de Marco Martins

O caminho de casa para escola era feito todos os dias por Alice e pelos seus pais. Encontravam-se a horas marcadas, em sítios combinados e seguiam as suas vidas numa rotina quotidiana que faz parte da vida de muita gente. Foi num desses dias que Alice acabaou por desaparecer no meio da cidade. No meio das pessoas anónimas que se acotovelam nos transportes públicos, no meio dos centros comercias com centenas de lojas, no meio de prédios e arranha-céus.
Passaram 193 dias desde que Alice foi vista pela última vez. Depois das polícias, da comunicação social, da ajuda dos amigos e mesmo de alguns familiares, só os pais de Alice acreditam que devem fazer alguma coisa para encontrar a sua filha. Todos os dias Mário, o seu pai, sai de casa e repete o mesmo percurso que fez no dia em que Alice desapareceu.
A obsessão de a encontrar leva-o a instalar uma série de câmaras de vídeo que registam o movimento das ruas. No meio de todos aqueles rostos, daquela multidão anónima, Mário procura uma pista, uma ajuda, um sinal. O mais recente filme português a passar no circuito comercial é um filme transformador de mentalidade. Nesta produção é dada a conhecer uma Lisboa diferente da que os seus habitantes estavam habituados há algum tempo. Uma capital fria, onde as pessoas não estão solidárias e assim parecem ser as instituições. A dor brutal causada pela ausência de Alice transformou Mário numa pessoa diferente, num ser que tem como único objectivo encontrar a sua filha. Mas a procura obstinada e trágica, é talvez a única forma que ele tem para continuar a acreditar que um dia Alice vai aparecer.