Luís Lourenço*
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Gestão, Produtividade e Competitividade
Ao contrário
dos outros “Design” o curso de Design Industrial,
na UBI, não preencheu todas as vagas na primeira
fase de colocações. Tal facto deixou-me
perplexo. Não é que me não preocupem
os outros cursos em igual ou pior situação,
mas este em particular fez-me pensar.
É que, provavelmente, esta realidade não
está dissociada de outras com que nos deparamos
a cada ano que passa e que nos devem fazer pensar a todos.
Refiro-me, por exemplo ao facto de o curso de EPGI, com
excelentes saídas em termos de empregabilidade,
ter sido condenado ao desaparecimento por falta de candidatos,
ou ao facto de os cursos de engenharia terem um número
de candidatos, e portanto de colocados, que, sem querer
ser alarmista, posso considerar de perigosamente baixo.
Sem pretender escamotear outras razões, em minha
opinião, esta realidade mais não é
do que o reflexo de uma forma de ser, estar e pensar dominante
na sociedade portuguesa, que tem repercussões extremamente
graves ao nível da produtividade e da competitividade
das nossas organizações, e como tal do País.
De facto, valoriza-se o efémero, a aparência,
o sucesso a curto prazo e desvaloriza-se o que é
duradoiro e sustentável, ou o saber fazer. Por
isso, os cursos aos quais está associado um certo
“glamour”, os que estão na moda, preenchem
todas as suas vagas, enquanto que aqueles em que é
preciso, passe a expressão, “sujar as mãos”
ficam vazios, ou quase.
O que se passa com os Politécnicos é, em
minha opinião, reflexo desta mesma forma de pensar
dominante. Em Portugal toda a gente quer ser dr. Em resposta,
os Politécnicos passaram a atribuir o grau de licenciatura
(há que satisfazer os clientes). Não é
o grau académico que está em causa, o que
está em causa é que a formação
de carácter mais tecnológico, para a qual
os Institutos Politécnicos estavam vocacionados,
parece ter sido esquecida e, num caminho que parece de
imitação das Universidades, se chegou a
uma situação algo confusa para a qual não
parece fácil encontrar saída.
A esta valorização do efémero e do
glamoroso não escapa à área da Gestão.
Para a maioria da comunicação social o que
vende, o que é “in”, é o que
está relacionado com o Marketing ou com as Finanças.
Produção ou Qualidade ou são “sujas”
ou dão demasiado trabalho. São, de qualquer
forma, incompatíveis com objectivos de sucesso
rápido.
Mas afinal o que tem tudo isto a ver com produtividade
e competitividade? Numa resposta curta, diria que tem
tudo. Enquanto esta forma de pensar dominante se mantiver,
enquanto se mantiverem as suas consequências práticas,
são serão soluções tipo choque
tecnológico que nos tornarão competitivos.
Não basta dizer que se aposta, ou apostar mesmo,
na inovação para que a economia se torne
competitiva. Uma empresa ou organização
pode apostar na inovação, mas se não
souber ser eficaz e particularmente eficiente, na produção
dos seus produtos, nunca conseguirá melhorar a
sua produtividade e ser competitiva. E não há
economias competitivas, sem empresas e organizações
competitivas.
O Departamento de Gestão e Economia, os seus docentes
que têm um pouco mais de responsabilidade na formação
de futuros gestores não podem ignorar esta realidade.
Não lhes compete a tarefa impossível de
mudar mentalidades ou pensamentos dominantes, mas compete-lhes
contribuir para que os futuros gestores saiam da UBI com
uma formação ecléctica, mas equilibrada,
e adequada às necessidades gerais da economia e
específicas das empresas e organizações
para onde irão trabalhar.
Os gestores que temos formado até hoje têm
tido essas características, por isso têm
tido sucesso no mercado de trabalho a que se destinam,
maioritariamente pequenas e médias empresas. Fica
aqui o alerta para que no período de mudanças
que estamos a viver, nomeadamente com a adopção
de “Bolonha” esta preocupação
seja tida em conta e a longa experiência do nosso
Departamento não seja ignorada. Caso contrário
corremos o risco de “deitar fora o bebé com
a água do banho”.
*Docente do Departamento de Gestão e Economia da
UBI
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