José Geraldes
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Solidão universitária
Um jovem licenciado,
em recentes jornadas de formação, testemunhava
que muitos estudantes universitários viviam numa
grande solidão. E citava mesmo um certo número
de jovens que se haviam suicidado numa determinada cidade
devido ao isolamento em que se encontravam.
O facto era reportado a uma capital de distrito que tem
na sua Academia dezenas de milhares de estudantes.
É um facto que nas sociedades modernas a solidão
ocupa um lugar importante. Seja pelo estilo de vida a
correr que não deixa um tempo para o convívio,
seja pela falta de consideração pelo outro,
marginalizando-o e não lhe dando um pouco de atenção.
A rejeição do outro provoca uma fractura
social, levando as pessoas para caminhos de dependência
do álcool e das drogas como forma de fugir ao estar
só.
Se a solidão faz parte da vida humana, não
é normal as pessoas viverem isoladas. Lê-se
na Bíblia: “Ai do só!”. O filósofo
Gabriel Marcel associa a solidão ao sofrimento.
E Guy de Maupassant anotava “quando estamos demasiado
tempo só com os nossos problemas, o nosso espírito
enche-se de fantasmas”. Paul Valéry deixou-nos
um paradoxo provocatório: “Um homem sozinho
está sempre mal acompanhado”.
O homem é um ser social. A sua vocação
realiza-se vivendo em comunidade. Daí que para
se constituir uma família são necessárias
duas pessoas.
A solidão não diz respeito somente aos jovens
mas é um problema que afecta toda a sociedade.
E quem tem responsabilidades de decisões que envolvem
o futuro de pessoas.
Que dizer da solidão dos divorciados na ruptura
do seu casamento, dos viúvos, dos idosos, dos que
sós no seu gabinete têm de tomar decisões
donde podem depender até os destinos do mundo?
Para combater a solidão, a resposta está
no acolhimento personalizado. O anonimato apaga os laços
humanos.
Nas universidades, matriculam-se agora milhares e milhares
de “caloiros”. Quando se iniciam as aulas,
criam-se estruturas de acolhimento e integração
dos novos alunos. Uma das mais conhecidas e com má
imagem são as praxes.
Ninguém tem dúvidas que, para além
das praxes, podem ser encontradas outras fórmulas
alternativas para integração dos alunos.
Universidades públicas e privadas e institutos
politécnicos experimentaram já com êxito
iniciativas várias para esta integração
que não o despejar barris de cerveja ou ir de tasca
em tasca.
A solidão não termina com a praxe ou as
semanas académicas. A criação de
espaços onde os universitários se sintam
como em sua casa, é o melhor antídoto contra
o isolamento. E depois os grupos de amizade e a atenção
pessoal para que os jovens sintam que há afectos.
A comunidade universitária não mede por
números mas pela qualidade dos contactos entre
os seus membros.
Contra a solidão universitária, unam-se
todos os esforços. Pois está em jogo tornar
felizes jovens com sonhos de futuro. |