O que era um receio
há uns meses tornou-se agora, altura das vindimas,
numa constatação. A seca afectou a produção
e há menos uvas a entrar nas Adegas Cooperativas
da Covilhã e Fundão, com consequências
mais visíveis no concelho fundanense, onde a produção
do fruto caiu 20 por cento. No concelho serrano a quebra,
relativamente ao ano transacto, andará entre os
cinco e os oito por cento. Apesar de tudo, a qualidade
está salvaguardada.
“Estamos num processo em busca da qualidade do produto
final que não se compadece com uva menos boa. Somos
exigentes a fazer a selecção e reunimos
há uns tempos com os produtores, que têm
correspondido. Por isso não sei se a diminuição
que se verifica é porque os produtores, por acharem
que não tem a qualidade necessária, não
entregam a uva, ou se não têm condições
para suportar os encargos com a vindima, porque não
lhes compensa”, explica António Andrade,
responsável pela Adega da Covilhã.
Esses requisitos passam pelas condições
fitossanitárias, como por exemplo a sua apresentação.
Não deve chegar a iniciar o processo de decomposição,
porque perde grau e essa é uma das características
da uva que vai determinar a qualidade do vinho que se
produz. Certo é que, segundo as previsões
de António Andrade, dos quatro milhões de
quilos do ano passado se deve passar para os três
milhões e 800.
Na Adega do Fundão a queda será dos quatro
milhões e meio para os três milhões
e 200 quilos de uva, mas os responsáveis asseguram
que a qualidade não está em causa. Quem
acaba prejudicado, alerta Albertino Nunes, o presidente
da cooperativa, são os produtores, que recebem
menos. Apesar de sublinhar que o grau das uvas que têm
chegado tem uma média boa, entre os 13 e os 13,5
graus.
Uva não teve um ciclo normal de crescimento
A culpa é célere em apontá-la à
seca que este ano se tem feito notar em todo o País.
“Os terrenos não têm humidade e a uva
não se desenvolveu, não teve um ciclo normal
de desenvolvimento”, salienta Albertino Nunes. E
conta que no seu caso até foi mais prejudicado
que a maioria dos produtores, já que regista um
decréscimo na produção de 60 por
cento na sua vinha.
O pagamento é feito apenas no ano seguinte e na
Adega da Covilhã ainda não foram pagos os
valores relativos ao ano passado. Já no Fundão
a liquidação, que depende do volume de vendas
e do grau da uva entregue, começa a ser feita em
Abril. O que foi pago por quilo, para o fruto que ronda
os 12 graus, foram 31 cêntimos.
A adega covilhanense abriu as portas no dia 12 e a campanha
prossegue até 1 de Outubro, com um dia reservado
para o vinho kosher, feito segundo os preceitos judaicos,
que este ano foi na passada terça-feira, 20. No
Fundão as vindimas começaram a 20 de Agosto
e terminam na próxima quarta-feira, 28. Mas Albertino
Nunes diz que se a produção voltar a baixar
pondera reduzir o número de dias da campanha, porque
cada dia de funcionamento exige muitos recursos e custa
bastante dinheiro.
Outra dificuldade prende-se com o mercado, onde o preço
do vinho tem vindo a baixar, “dos de mesa aos de
denominação de origem controlada (DOC)”.
Uma situação motivada pela forte concorrência.
Um dos caminhos a seguir passa por tentar encontra novos
mercados onde comercializar o vinho.
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