António Fidalgo
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Vagas ao desbarato
Foram tornadas públicas
no fim de semana passado as colocações da
primeira fase no ensino superior público. Como
era previsto, houve um descalabro na ocupação
das vagas. Há acima de 45 mil vagas para 39 mil
candidatos. A UBI não esteve bem este ano; apenas
preencheu 63% das vagas, 723 das 1145 postas a concurso.
Há cursos que não tiveram qualquer colocação,
outros que baixaram brutalmente o número de vagas
preenchidas. Caso para perguntar quais as razões
que levam os candidatos ao ensino superior em Portugal
a escolher um curso. Parece que são quatro ordens
de razões: mercado, moda, proximidade geográfica
e facilidade de acesso.
Os cursos de saúde, com medicina à frente,
são cursos concorridos. Qualquer curso que tenha
um termo da área de saúde na designação
é um curso com preenchimento de vagas garantido.
À entrada da universidade os estudantes pensam
já nas saídas profissionais e o sector da
saúde parece o oeste americano no tempo da corrida
ao ouro. Se neste momento Portugal recorre a médicos
e a enfermeiros estrangeiros para trabalharem nos hospitais
portugueses, então há certamente emprego.
Só que passou-se do oito de há uma década
atrás para o oitenta de agora. Basta olhar para
a variedade de cursos e para a quantidade dos estudantes
das áreas de saúde, tecnologias da saúde,
enfermagem, etc., para facilmente prever que acontecerá
em poucos anos o que agora acontece no ensino: profissionais
a mais para lugares a menos.
O segundo factor de escolha é a moda. Arquitectura
e psicologia são cursos que têm grande procura,
mas cujas saídas profissionais não são
tão róseas quanto a procura . Já
houve a moda da gestão, da comunicação,
e agora temos a moda das artes. Mas as modas passam e
o que era o máximo ontem passa a trivial hoje e
uma aposta errada amanhã.
O terceiro factor é a proximidade dos cursos e
das escolas. Um bom aluno do Porto fica numa escola do
Porto tal como um mau aluno. O mesmo se diga para os outros
estudantes nas outras zonas do país. O ideal é
ficar na casinha dos pais, com cama, mesa e roupa lavada,
e ir às aulas na faculdade mais próxima.
Procura de qualidade supõe mobilidade, mas esse
critério ainda não é decisivo na
escolha do curso.
Por fim, um estudante escolhe um curso pela facilidade
de acesso. Há cursos de engenharia que não
exigem matemática como disciplina de ingresso.
Há cursos idênticos em que uma universidade
exige um par de disciplinas e outra universidade apenas
uma disciplina. Óbvio que a nota mínima
de entrada no segundo será superior à do
primeiro. Quer-se um grau académico, mas um que
não dê muito trabalho. Assim, vemos cursos
de grande tradição universitária,
nomeadamente os cursos de matemática, física,
filologias ficarem às moscas, e cursos de pouca
ou nenhuma dignidade académica, como turismo, lazer,
etc., ficarem a abarrotar. É verdade, se a universidade
é o templo da sabedoria, como dizia Unamuno, então
vende-se o templo às modas dos tempos e aos gostos
dos jovens consumidores.
Rasteiras são as razões apontadas, as que
levam os estudantes a escolher os cursos. É o que
temos infelizmente.
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