Urbi @Orbi
– Quais as principais linhas da sua candidatura
à autarquia covilhanense?
Victor Pereira – A nossa prioridade vai
exactamente para as questões de natureza económica
e de apoio ao emprego. A Covilhã tem cerca de 3200
desempregados, foi duramente castigada pela crise e urge
lançar as bases de um plano de desenvolvimento
económico e social orientado pelos princípios
de igualdade de oportunidades e da solidariedade. A dinamização
económica e a promoção de emprego
são para nós grandes prioridades.
U@O – Que medidas concretas pensa tomar
nesse sentido?
V.P. – É nossa intenção
criar o Gabinete de Apoio ao Investidor e à Produção
que criaremos com carácter de urgência. Também
criaremos incentivos à fixação de
projectos empresariais de investigação de
tecnologias de inovação e de tecnologias
da saúde. Criaremos uma empresa de capital de risco
municipal que visa apoiar a criação de pequenas
e médias empresas. Há muitas iniciativas
locais de pequenas empresas que estariam hoje a laborar
e seriam fonte de riqueza, com postos de trabalho criados,
se tivessem uma pequena ajuda, um pequeno impulso. Às
vezes com uma ajuda de seis ou sete mil euros consegue-se
montar uma empresa. A Câmara da Covilhã tem
estado alheada deste tipo de apoios. Mas a autarquia tem
de funcionar como motor de desenvolvimento. É indiscutível
que existe obra na Covilhã, mas essa obra não
tem sido reprodutora, criadora de riqueza. Tem-se apostado
na obra pela obra, a obra para eleitor ver, a obra em
função do calendário eleitoral, e
não se tem apostado em função de
uma estratégia e de um rumo definido. Ainda neste
âmbito da economia urge criar uma plataforma municipal
de emprego que terá que contar forçosamente
com a participação das escolas, dos centros
de formação, dos empresários, das
associações, etc., porque a Covilhã
não pode continuar nesta situação
de grave crise económica em que se encontra.
U@O – Considera que é a Câmara
que tem de resolver estes problemas?
V.P. – A Câmara tem que ajudar a
resolver estes problemas. Deve ser o motor de políticas
de desenvolvimento local. Para nós é fundamental
apostar na questão económica, apesar de
termos também outras preocupações.
Direccionaremos a nossa acção para uma política
económica virada para as pessoas de forma a criar
emprego.
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"O PS tem muita força, está empenhado
na vitória"
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U@O – A acção do Partido
Socialista da Covilhã, tem sido acusada de alguma
“passividade”, quer pelos outros partidos
na oposição à maioria social-democrata,
quer por alguns simpatizantes do próprio PS. Que
comentários faz acerca desta questão?
V.P. – O Partido Socialista teve os resultados
que teve nas últimas autárquicas e ficou
numa situação complicada do ponto de vista
eleitoral, apenas com um único vereador. A oposição
feita foi a oposição possível neste
contexto. Agora apostamos no futuro. O PS tem muita força,
está coeso, unido, empenhado na vitória,
no próximo dia 9 de Outubro.
U@O – Neste período de pré-campanha
tem percorrido algumas freguesias do concelho. Qual é
a reacção das pessoas à sua candidatura?
V.P. – A receptividade tem sido muito boa.
As pessoas têm-nos acolhido com muita simpatia,
com muito entusiasmo e manifestam sistematicamente vontade
de mudar. Esse contacto carinhoso que temos tido com a
população tem-me estimulado muito e estou
convicto que, com o apoio dessas gentes, estão
criadas as condições para que o Partido
Socialista saia vencedor nas próximas eleições.
U@O – Quais são as principais necessidades
apontadas pelas pessoas?
V.P. – As grandes preocupações
das pessoas são exactamente aquelas que eu já
referi: a instabilidade do emprego e a inexistência
de fontes de rendimento. A Covilhã vive um período
conturbado do ponto de vista económico e as pessoas
sentem isso, daí que as nossas ideias vão
no sentido de inverter esta situação.
"Continuam a faltar coisas essenciais na Covilhã" |
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U@O – A Covilhã e todo o concelho
estão a atravessar uma grave crise de desemprego
e de mudança nos sectores estratégicos.
Como vê esta região enquanto deputado da
Assembleia da República?
V.P. – Estou aqui na qualidade de candidato
à presidência da Câmara da Covilhã,
pelo Partido Socialista e preferia não misturar
os cargos. Mas vejo que as medidas que o PS tomou ao longo
dos anos têm ido ao encontro daquilo que estou a
referir. Nenhum partido, dos que já tiveram a possibilidade
de governar em Portugal, fez tanto pela Covilhã
como o PS. As obras são tão visíveis
que será escusado referi-las. O PS tem uma grande
preocupação com o Interior e com as zonas
mais deprimidas. Ainda há poucos dias o primeiro-ministro
esteve na Cova da Beira para implementar a última
fase do regadio.
U@O – Tem referido por várias vezes
a sua ligação pessoal a José Sócrates.
Essa ligação poderá de alguma forma
facilitar o seu trabalho enquanto presidente de câmara,
caso venha a ganhar as eleições?
V.P. – No respeito pela autonomia dos respectivos
órgãos, ou seja, do Governo e da Câmara
Municipal, e caso seja eleito, como espero, contarei com
a colaboração empenhada do Governo, não
só do senhor primeiro-ministro mas também
de outros elementos. Estou certo que me irão ajudar
a abraçar esta difícil tarefa de presidir
à autarquia covilhanense num contexto tão
conturbado como o que estamos a atravessar.
U@O – Mas ainda que o PS tenha feito muito
pelo Interior continua a faltar uma ligação
a Coimbra, uma barragem, falta incentivar o turismo na
região…
V.P. – No que concerne à ligação
a Coimbra, o secretário de Estado das Obras Públicas
já anunciou o lançamento do IC6 e os troços
que compreendem a ligação à Covilhã.
Trata-se de uma acessibilidade decisiva para o desenvolvimento
da cidade e do concelho. No que diz respeito à
nova barragem, se ela ainda não existe a responsabilidade
é do actual presidente da Câmara Municipal
da Covilhã, que já podia ter, pelo menos
uma delas construída. Relembro que há oito
anos, quando ele tomou posse disse que num horizonte de
quatro anos teria a barragem, afirmando mesmo que caso
isso não acontecesse se demitiria. A verdade é
que já decorreram oito anos, a barragem não
se encontra feita e o senhor presidente continua em funções
e ainda vai recandidatar-se. Isto para dizer que a barragem
é bem o exemplo daquilo que é a situação
na Covilhã. Muito dinheiro foi derramado, fez-se
muita obra, mas a verdade é que continuam a faltar
coisas essenciais. Para além da barragem, falta
ainda um centro cultural e de congressos, uma piscina
de lazer, um pavilhão gimnodesportivo, etc. A situação
é de facto preocupante. Existe obra, muito investimento
público, uma dívida preocupante e não
temos as condições essenciais. Pergunto
aos covilhanenses: como é que entendem esta situação?
Como podemos ter uma dívida tão grande?
Como é que se podem ter alienado as rendas das
habitações sociais por décadas e
se tenha alienado o rendimento do estacionamento à
superfície e subterrâneo? Como podem continuar
a faltar coisas essenciais para o concelho? Isto é
de facto paradoxal.
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"Não são as visitas que deixam
marcas no território"
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U@O – Há quem critique a actuação
do actual Governo, com um primeiro-ministro covilhanense,
de partidarismo. Têm sido vários os convites
para que representantes do executivo se desloquem à
cidade, mas até ao momento isso ainda não
aconteceu?
V.P. – Essa crítica é profundamente
injusta. Lembro a essas pessoas quem é que fez
força para que viesse para cá a auto-estrada
que temos, o gás natural, quem impulsionou o regadio
da Cova da Beira, a Faculdade de Medicina e isto só
para referir as obras mais emblemáticas. Não
são as visitas que deixam marcas no território.
U@O – O Parkurbis que foi inaugurado este
fim-de-semana é apontado pelos promotores, como
uma das grandes infra-estruturas tecnológicas no
País. Mesmo assim, José Sócrates
não esteve presente. Conhece alguma explicação?
V.P. – A presença ou não
do primeiro-ministro é o factor menos importante.
O mais importante é a obra em si. Trata-se de uma
importante iniciativa, mas levará décadas
a produzir efeitos concretos e reais. A Covilhã
tinha que ter uma infra-estrutura destas, mas já
agora aproveito para dizer que podia ter sido mais simples,
e que desempenhasse a função para a qual
foi criada. Para quê apostar na sumptuosidade quando
vivemos problemas económicos tão graves?
Se calhar com um terço do dinheiro que custou esta
obra, ela seria realizável, desempenharia a sua
função e serviria, como há-de servir,
os covilhanenses. O Parkurbis não tem uma rendibilidade
imediata, levará décadas a produzir efeitos.
Continuamos a precisar medidas práticas e imediatas.
U@O – As medidas que falou há pouco
seriam mais imediatas?
V.P. – Julgo que sim. No caso de uma pessoa
que está desempregada e que tem um projecto credível,
mas precisa de uma pequena quantia para o levar avante,
se ela for imediatamente disponibilizada pela Câmara
Municipal, isso facilitaria todo o processo de lançar
a empresa e de ela começar a produzir e a criar
riqueza.
"Não se pode desperdiçar um cêntimo
dos fundos comunitários" |
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U@O – Quanto à questão financeira,
diz que a dívida da Câmara é preocupante…
V.P. – É tão preocupante
que a Câmara da Covilhã já está
no rol das 45 câmaras do País proibidas de
se endividarem.
U@O – E essa situação não
o intimida?
V.P. – Obviamente que me preocupa. Quando
me refiro à dívida não o faço
para castigar o meu principal adversário. Digo-o
com mágoa e preocupação porque isso
vem condicionar a acção da Câmara
para os próximos anos. Mas não será
por isso que a Covilhã vai parar. Criaremos as
condições necessárias para ultrapassar
as dificuldades financeiras.
U@O – Está então convicto
que mesmo com essa herança pesada, conseguirá
cumprir o seu programa?
V.P. – Não tenham dúvidas.
Não cruzarei os braços e em colaboração
com instituições públicas e privadas
da Covilhã e claro, com a ajuda da administração
central, procuraremos uma rentabilização
profunda e eficaz dos fundos comunitários. Vem
aí o próximo quadro comunitário de
apoio, num contexto de redução devido ao
alargamento da União Europeia e a Covilhã
não pode desperdiçar um cêntimo dos
fundos comunitários. Criarei um gabinete de planeamento
estratégico composto por pessoas que, a tempo inteiro,
trabalharão no aproveitamento eficaz dos fundos
comunitários.
U@O – Podemos esperar José Sócrates
na Covilhã para apoiar a sua candidatura?
V.P. – O senhor primeiro-ministro tem uma
agenda muito intensa. O País exige dele uma atenção
permanente. Mas os covilhanenses, e os socialistas em
particular, sabem que José Sócrates está
de alma e coração com a nossa candidatura.
Não é a sua presença ou a sua ausência
que significará uma coisa ou outra.
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"A Câmara da Covilhã devia dar
uma maior centralidade à UBI"
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U@O – Uma cidade marcada pela UBI. Como
vê a relação entre a autarquia e a
Universidade?
V.P. – Não obstante algumas parcerias,
poucas e de reduzido impacto, que têm existido,
entre a autarquia e a Universidade penso que elas não
estão propriamente de relações muito
estreitas. A Câmara da Covilhã podia e devia
dar uma maior centralidade à UBI sem estar preocupada
com o protagonismo, que deve ser assumido no momento próprio.
Devem ser estabilizadas as relações com
a Universidade respeitando a autonomia mútua das
instituições. A Câmara deve aproveitar
a massa cinzenta, o saber proveniente da Universidade
em prol do desenvolvimento da cidade e da região.
Universidade e Câmara devem estar permanentemente
de mãos dadas.
U@O – Existem projectos que gostaria de
ver implementados entre estas duas instituições
e que ainda não foram?
V.P. – A todos os níveis. Desde
o âmbito económico, social, tecnológico,
cultura e educação. Penso que a actuação
da Universidade nas políticas a implementar pela
Câmara Municipal deve ser transversal.
U@O – Fala muito na juventude e na cultura.
O que é que estas duas áreas podem ganhar
com o Partido Socialista na Câmara da Covilhã?
V.P. – As questões culturais e as
questões da informação são
sectores em amplo crescimento na União Europeia.
Sob a minha presidência garanto que a Câmara
da Covilhã compreenderá finalmente que a
memória e a história são factores
de desenvolvimento, de promoção turística
e de atracção de investimento. Tem havido
falta de sensibilidade neste domínio. É
necessário estimular, promover o conhecimento de
todo o património cultural e paisagístico
da Covilhã, a arqueologia industrial, que é
única no País, a música, a literatura,
o teatro, o artesanato, a gastronomia, o desporto, o lazer.
Todas estas vertentes devem ser integradas num projecto
que dê a conhecer o concelho e as suas riquezas
e potencialidades. É também importante promover
a classificação do património edificado
no meio rural e no meio urbano e estimular a participação
de entidades públicas, particulares ou cooperativas
na reconstrução e reconversão das
áreas classificadas. Enfim, o campo de actuação
é vasto, mas infelizmente a cultura não
tem sido tratada da melhor forma no concelho. Temos que
mudar de rumo e criar uma estratégia clara de uma
política de cultura para a cidade e para o concelho.
U@O – Como seria uma Covilhã socialista?
V.P. – Seria uma Covilhã profundamente
solidária que apostaria no desenvolvimento económico,
na criação de riqueza, com vista a atingirmos
a mítica meta do quase pleno emprego no concelho
da Covilhã, o qual tem muitas potencialidades adormecidas.
Há que estimular as pessoas e criar as condições
adequadas para que elas contribuam para o desenvolvimento
da nossa terra.
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