Por Catarina Rodrigues e Eduardo Alves




Urbi @Orbi – Quais as principais linhas da sua candidatura à autarquia covilhanense?
Victor Pereira –
A nossa prioridade vai exactamente para as questões de natureza económica e de apoio ao emprego. A Covilhã tem cerca de 3200 desempregados, foi duramente castigada pela crise e urge lançar as bases de um plano de desenvolvimento económico e social orientado pelos princípios de igualdade de oportunidades e da solidariedade. A dinamização económica e a promoção de emprego são para nós grandes prioridades.

U@O – Que medidas concretas pensa tomar nesse sentido?
V.P. –
É nossa intenção criar o Gabinete de Apoio ao Investidor e à Produção que criaremos com carácter de urgência. Também criaremos incentivos à fixação de projectos empresariais de investigação de tecnologias de inovação e de tecnologias da saúde. Criaremos uma empresa de capital de risco municipal que visa apoiar a criação de pequenas e médias empresas. Há muitas iniciativas locais de pequenas empresas que estariam hoje a laborar e seriam fonte de riqueza, com postos de trabalho criados, se tivessem uma pequena ajuda, um pequeno impulso. Às vezes com uma ajuda de seis ou sete mil euros consegue-se montar uma empresa. A Câmara da Covilhã tem estado alheada deste tipo de apoios. Mas a autarquia tem de funcionar como motor de desenvolvimento. É indiscutível que existe obra na Covilhã, mas essa obra não tem sido reprodutora, criadora de riqueza. Tem-se apostado na obra pela obra, a obra para eleitor ver, a obra em função do calendário eleitoral, e não se tem apostado em função de uma estratégia e de um rumo definido. Ainda neste âmbito da economia urge criar uma plataforma municipal de emprego que terá que contar forçosamente com a participação das escolas, dos centros de formação, dos empresários, das associações, etc., porque a Covilhã não pode continuar nesta situação de grave crise económica em que se encontra.

U@O – Considera que é a Câmara que tem de resolver estes problemas?
V.P. –
A Câmara tem que ajudar a resolver estes problemas. Deve ser o motor de políticas de desenvolvimento local. Para nós é fundamental apostar na questão económica, apesar de termos também outras preocupações. Direccionaremos a nossa acção para uma política económica virada para as pessoas de forma a criar emprego.




"O PS tem muita força, está empenhado na vitória"

U@O – A acção do Partido Socialista da Covilhã, tem sido acusada de alguma “passividade”, quer pelos outros partidos na oposição à maioria social-democrata, quer por alguns simpatizantes do próprio PS. Que comentários faz acerca desta questão?
V.P. –
O Partido Socialista teve os resultados que teve nas últimas autárquicas e ficou numa situação complicada do ponto de vista eleitoral, apenas com um único vereador. A oposição feita foi a oposição possível neste contexto. Agora apostamos no futuro. O PS tem muita força, está coeso, unido, empenhado na vitória, no próximo dia 9 de Outubro.

U@O – Neste período de pré-campanha tem percorrido algumas freguesias do concelho. Qual é a reacção das pessoas à sua candidatura?
V.P. –
A receptividade tem sido muito boa. As pessoas têm-nos acolhido com muita simpatia, com muito entusiasmo e manifestam sistematicamente vontade de mudar. Esse contacto carinhoso que temos tido com a população tem-me estimulado muito e estou convicto que, com o apoio dessas gentes, estão criadas as condições para que o Partido Socialista saia vencedor nas próximas eleições.

U@O – Quais são as principais necessidades apontadas pelas pessoas?
V.P. –
As grandes preocupações das pessoas são exactamente aquelas que eu já referi: a instabilidade do emprego e a inexistência de fontes de rendimento. A Covilhã vive um período conturbado do ponto de vista económico e as pessoas sentem isso, daí que as nossas ideias vão no sentido de inverter esta situação.


"Continuam a faltar coisas essenciais na Covilhã"

U@O – A Covilhã e todo o concelho estão a atravessar uma grave crise de desemprego e de mudança nos sectores estratégicos. Como vê esta região enquanto deputado da Assembleia da República?
V.P. –
Estou aqui na qualidade de candidato à presidência da Câmara da Covilhã, pelo Partido Socialista e preferia não misturar os cargos. Mas vejo que as medidas que o PS tomou ao longo dos anos têm ido ao encontro daquilo que estou a referir. Nenhum partido, dos que já tiveram a possibilidade de governar em Portugal, fez tanto pela Covilhã como o PS. As obras são tão visíveis que será escusado referi-las. O PS tem uma grande preocupação com o Interior e com as zonas mais deprimidas. Ainda há poucos dias o primeiro-ministro esteve na Cova da Beira para implementar a última fase do regadio.

U@O – Tem referido por várias vezes a sua ligação pessoal a José Sócrates. Essa ligação poderá de alguma forma facilitar o seu trabalho enquanto presidente de câmara, caso venha a ganhar as eleições?
V.P. –
No respeito pela autonomia dos respectivos órgãos, ou seja, do Governo e da Câmara Municipal, e caso seja eleito, como espero, contarei com a colaboração empenhada do Governo, não só do senhor primeiro-ministro mas também de outros elementos. Estou certo que me irão ajudar a abraçar esta difícil tarefa de presidir à autarquia covilhanense num contexto tão conturbado como o que estamos a atravessar.

U@O – Mas ainda que o PS tenha feito muito pelo Interior continua a faltar uma ligação a Coimbra, uma barragem, falta incentivar o turismo na região…
V.P. –
No que concerne à ligação a Coimbra, o secretário de Estado das Obras Públicas já anunciou o lançamento do IC6 e os troços que compreendem a ligação à Covilhã. Trata-se de uma acessibilidade decisiva para o desenvolvimento da cidade e do concelho. No que diz respeito à nova barragem, se ela ainda não existe a responsabilidade é do actual presidente da Câmara Municipal da Covilhã, que já podia ter, pelo menos uma delas construída. Relembro que há oito anos, quando ele tomou posse disse que num horizonte de quatro anos teria a barragem, afirmando mesmo que caso isso não acontecesse se demitiria. A verdade é que já decorreram oito anos, a barragem não se encontra feita e o senhor presidente continua em funções e ainda vai recandidatar-se. Isto para dizer que a barragem é bem o exemplo daquilo que é a situação na Covilhã. Muito dinheiro foi derramado, fez-se muita obra, mas a verdade é que continuam a faltar coisas essenciais. Para além da barragem, falta ainda um centro cultural e de congressos, uma piscina de lazer, um pavilhão gimnodesportivo, etc. A situação é de facto preocupante. Existe obra, muito investimento público, uma dívida preocupante e não temos as condições essenciais. Pergunto aos covilhanenses: como é que entendem esta situação? Como podemos ter uma dívida tão grande? Como é que se podem ter alienado as rendas das habitações sociais por décadas e se tenha alienado o rendimento do estacionamento à superfície e subterrâneo? Como podem continuar a faltar coisas essenciais para o concelho? Isto é de facto paradoxal.




"Não são as visitas que deixam marcas no território"


U@O – Há quem critique a actuação do actual Governo, com um primeiro-ministro covilhanense, de partidarismo. Têm sido vários os convites para que representantes do executivo se desloquem à cidade, mas até ao momento isso ainda não aconteceu?
V.P. –
Essa crítica é profundamente injusta. Lembro a essas pessoas quem é que fez força para que viesse para cá a auto-estrada que temos, o gás natural, quem impulsionou o regadio da Cova da Beira, a Faculdade de Medicina e isto só para referir as obras mais emblemáticas. Não são as visitas que deixam marcas no território.

U@O – O Parkurbis que foi inaugurado este fim-de-semana é apontado pelos promotores, como uma das grandes infra-estruturas tecnológicas no País. Mesmo assim, José Sócrates não esteve presente. Conhece alguma explicação?
V.P. –
A presença ou não do primeiro-ministro é o factor menos importante. O mais importante é a obra em si. Trata-se de uma importante iniciativa, mas levará décadas a produzir efeitos concretos e reais. A Covilhã tinha que ter uma infra-estrutura destas, mas já agora aproveito para dizer que podia ter sido mais simples, e que desempenhasse a função para a qual foi criada. Para quê apostar na sumptuosidade quando vivemos problemas económicos tão graves? Se calhar com um terço do dinheiro que custou esta obra, ela seria realizável, desempenharia a sua função e serviria, como há-de servir, os covilhanenses. O Parkurbis não tem uma rendibilidade imediata, levará décadas a produzir efeitos. Continuamos a precisar medidas práticas e imediatas.

U@O – As medidas que falou há pouco seriam mais imediatas?
V.P. –
Julgo que sim. No caso de uma pessoa que está desempregada e que tem um projecto credível, mas precisa de uma pequena quantia para o levar avante, se ela for imediatamente disponibilizada pela Câmara Municipal, isso facilitaria todo o processo de lançar a empresa e de ela começar a produzir e a criar riqueza.


"Não se pode desperdiçar um cêntimo dos fundos comunitários"

U@O – Quanto à questão financeira, diz que a dívida da Câmara é preocupante…
V.P. – É tão preocupante que a Câmara da Covilhã já está no rol das 45 câmaras do País proibidas de se endividarem.

U@O – E essa situação não o intimida?
V.P. –
Obviamente que me preocupa. Quando me refiro à dívida não o faço para castigar o meu principal adversário. Digo-o com mágoa e preocupação porque isso vem condicionar a acção da Câmara para os próximos anos. Mas não será por isso que a Covilhã vai parar. Criaremos as condições necessárias para ultrapassar as dificuldades financeiras.

U@O – Está então convicto que mesmo com essa herança pesada, conseguirá cumprir o seu programa?
V.P. –
Não tenham dúvidas. Não cruzarei os braços e em colaboração com instituições públicas e privadas da Covilhã e claro, com a ajuda da administração central, procuraremos uma rentabilização profunda e eficaz dos fundos comunitários. Vem aí o próximo quadro comunitário de apoio, num contexto de redução devido ao alargamento da União Europeia e a Covilhã não pode desperdiçar um cêntimo dos fundos comunitários. Criarei um gabinete de planeamento estratégico composto por pessoas que, a tempo inteiro, trabalharão no aproveitamento eficaz dos fundos comunitários.

U@O – Podemos esperar José Sócrates na Covilhã para apoiar a sua candidatura?
V.P. –
O senhor primeiro-ministro tem uma agenda muito intensa. O País exige dele uma atenção permanente. Mas os covilhanenses, e os socialistas em particular, sabem que José Sócrates está de alma e coração com a nossa candidatura. Não é a sua presença ou a sua ausência que significará uma coisa ou outra.




"A Câmara da Covilhã devia dar uma maior centralidade à UBI"

U@O – Uma cidade marcada pela UBI. Como vê a relação entre a autarquia e a Universidade?
V.P. –
Não obstante algumas parcerias, poucas e de reduzido impacto, que têm existido, entre a autarquia e a Universidade penso que elas não estão propriamente de relações muito estreitas. A Câmara da Covilhã podia e devia dar uma maior centralidade à UBI sem estar preocupada com o protagonismo, que deve ser assumido no momento próprio. Devem ser estabilizadas as relações com a Universidade respeitando a autonomia mútua das instituições. A Câmara deve aproveitar a massa cinzenta, o saber proveniente da Universidade em prol do desenvolvimento da cidade e da região. Universidade e Câmara devem estar permanentemente de mãos dadas.

U@O – Existem projectos que gostaria de ver implementados entre estas duas instituições e que ainda não foram?
V.P. –
A todos os níveis. Desde o âmbito económico, social, tecnológico, cultura e educação. Penso que a actuação da Universidade nas políticas a implementar pela Câmara Municipal deve ser transversal.

U@O – Fala muito na juventude e na cultura. O que é que estas duas áreas podem ganhar com o Partido Socialista na Câmara da Covilhã?
V.P. –
As questões culturais e as questões da informação são sectores em amplo crescimento na União Europeia. Sob a minha presidência garanto que a Câmara da Covilhã compreenderá finalmente que a memória e a história são factores de desenvolvimento, de promoção turística e de atracção de investimento. Tem havido falta de sensibilidade neste domínio. É necessário estimular, promover o conhecimento de todo o património cultural e paisagístico da Covilhã, a arqueologia industrial, que é única no País, a música, a literatura, o teatro, o artesanato, a gastronomia, o desporto, o lazer. Todas estas vertentes devem ser integradas num projecto que dê a conhecer o concelho e as suas riquezas e potencialidades. É também importante promover a classificação do património edificado no meio rural e no meio urbano e estimular a participação de entidades públicas, particulares ou cooperativas na reconstrução e reconversão das áreas classificadas. Enfim, o campo de actuação é vasto, mas infelizmente a cultura não tem sido tratada da melhor forma no concelho. Temos que mudar de rumo e criar uma estratégia clara de uma política de cultura para a cidade e para o concelho.

U@O – Como seria uma Covilhã socialista?
V.P. –
Seria uma Covilhã profundamente solidária que apostaria no desenvolvimento económico, na criação de riqueza, com vista a atingirmos a mítica meta do quase pleno emprego no concelho da Covilhã, o qual tem muitas potencialidades adormecidas. Há que estimular as pessoas e criar as condições adequadas para que elas contribuam para o desenvolvimento da nossa terra.






Perfil



Vítor Manuel Pinheiro Pereira é casado e pai de dois filhos. Licenciou-se em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito pela Universidade de Coimbra e é advogado desde 1989.
O gosto pela política nasceu no “liceu”, actual Escola Secundária Frei Heitor Pinto, onde foi membro do Conselho Directivo. Foi um dos fundadores do jornal “Chama” desse mesmo estabelecimento de ensino, uma publicação que ainda hoje existe. Foi membro da Associação Académica da Universidade de Coimbra e do conselho directivo da Faculdade de Direito da mesma instituição.
“A ligação ao PS surgiu por uma sensibilização muito grande para as questões sociais”, explica. O factor determinante da sua filiação política deve-se ao facto de o Partido Socialista ir ao encontro de vários aspectos que considera fundamentais e foi isso que o seduziu. “Eu conhecia a vida, no seu âmago mais profundo, vivia num meio rural, via as dificuldades das pessoas e perspectivava uma sociedade diferente”, acrescenta. Victor Pereira foi membro da Assembleia de Freguesia do Teixoso, membro da Assembleia Municipal da Covilhã, é deputado na Assembleia da República, onde integra a comissão de Poder Local, Ambiente e Ordenamento do Território e a Comissão de Ética. É coordenador dos deputados do PS pelo círculo de Castelo Branco. Membro da Comissão Política Nacional do PS. Membro da Comissão Nacional de Jurisdição do PS. Membro do Secretariado e da Comissão Política da Federação Distrital de Castelo Branco do PS e presidente da Comissão Concelhia da Covilhã do PS.
Nos tempos livres gosta de andar de bicicleta e de ler, “principalmente clássicos e bons policiais” porque são leituras que aliviam um pouco o espírito”.